sábado, 24 de dezembro de 2011

Algodão Doce

As nuvens da cidade não são brancas à noite.

E as estrelas que brilham são planetas. Assim como o branco da nuvem que é amarelo.

Na cidade nada é o que é. Nada espera, nada crê, nada suporta.

A noite faz o papel de deixar as nuvens a par das luzes amarelas. - gosto quando falta luz.

O Silencio, o escuro. A única luz que resta é da lua.

No meio do negrume e das velas na sala nascem pensamentos, recordações, remorsos. -Gosto do escuro.

Gosto do escuro por que me faz pensar.

No escuro invento fantasmas e fantasias. Invento monstros que sempre querem me pegar. Bem diferente do dia, onde esses monstros têm nome, RG e CPF. -mas gosto mais quando falta luz.

Gosto mais, por que quando falta luz, as pessoas são mais pessoas. As pessoas são mais elas. A criança corre para o braço da mãe aos gritos. Os velhos vão para as ruas para ver outros velhos nas ruas. Gosto, pois quando falta luz, as pessoas olham para a lua. Neste momento a tecnologia se cala e se rende a beleza natural.

E quando falta luz as nuvens são brancas, como Deus as criou.

Como todo algodão doce deve ser.

Doce.


Daniel Mateus  @damateus
11/12/2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Diário de Bordo#3: Espeleo

Numa expedição não agendada, andei curiosamente pelas obscuras cavernas da minha própria mente...


Nunca quis ser Espeleólogo, nem entendo de grutas... Mas alguma coisa me atraiu ao interior dessa gruta em especial. Não sei se alguma familiaridade ou luminosidade reveladora, mas fui levado às entranhas de uma caverna desconhecida e perigosa.


Tudo pareceu tão confuso e escuro durante um tempo. Enquanto o vento das emoções de qualquer acontecimento anormal movimentavam minha atenção, eu permaneci pendurado naquela corda, sem saber o que fazer. Sem querer conhecer de verdade minha própria identidade, e sem querer fugir dela. Decidi enfim! Com certeza encontraria sossego, afinal, quem mais estaria lá dentro, senão eu? Era isso que eu temia. Só não esperava que alguém já houvesse explorado este local desconhecido, nem tampouco que alguém se agradasse daquele abrigo aparentemente desprezível.


Confesso que tremi quando contemplei pela primeira vez como um todo.
 - Que bagunça! Pensei.
 - Realmente uma espelunca... Quantas idéias penduradas feito estalactites. Essas coisas estão quase caindo na minha cabeça!
Mais a frente percebi que muitas das ideologias haviam realmente desabado, naturalmente creio. Contudo tudo estava muito misturado, pedras, sombras, luzes, dores, amores, medos. Temi instantaneamente.
 - Alguém precisa organizar isso aqui antes que eu perca a cabeça!
Senti que na verdade esse organizador de idéias não esteve inteiramente ausente, mas agiu despreocupadamente durante um tempo.
 - Deus...
Disse numa breve oração.
 - Descuidei da minha mente, deixei de guardar meu coração*, e pela sua tendência natural ele ficou bagunçado como está. Ajuda-me a arrumar essa bagunça, quem sabe assim o Senhor se agrada do lugar...

Não obtive resposta direta, mas logo percebi que a caverna era habitada. Alguém havia colocado firmes alicerces e começara a edificar sua morada, o Senhor se agradou dali sem motivo algum, se compadeceu da falta de estrutura e da desorganização. Comprou aquele local para si e iniciou novas obras, uma construção perfeita.

Foi a motivação necessária para continuar a exploração, organizar as idéias e deixar ser edificado sobre esses fundamentos. Não me encontrei lá dentro, nem encontrei a Deus. Somente bagunça e necessidade de conserto. Mas sem a consciência da mudança ninguém tenta mudar né...  Tenho que continuar mexendo nesse lugar, não posso descuidar dele. Quero em breve conhecer aquele que deu valor ao desprezível. Que comprou por um alto preço o que não tinha nenhum valor. E amou a quem nunca mereceu.


"Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida."  (Provérbios 4 : 23)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
J. Caetano Jr.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...