Tudo
começa com um diagnóstico simples que qualquer não profissional pode dar. De
repente você se encontra coçando a cabeça, meio encurvado e com os pés numa
poça d’água. “Tem alguma coisa errada”, você conclui logicamente. A primeira coisa que se faz é procurar de onde
vem a água. Olha aqui, olha ali e pronto! A água vem do chão. Um vazamento do
chão requer uma quebradeira muito grande pra ser resolvido. E é até meio
incomum. Mas o que teria acontecido para alguma coisa dar errado na minha vida?
Isso é tão incomum. Você observa o problema e tenta descobrir uma solução. “Esse
erro vem aqui desse buraquinho”. Mas a conclusão é tão superficial que você decide
ir mais fundo.
A
marreta quebra o piso com a mesma agressividade que os seus pensamentos
vasculham seu histórico de vida. Suas ações indisciplinadas, seus erros
antigos, coisas que sobrepõem outras. Você quebra a casca da aparência. O piso
nada mais é que areia e entulho, e você acaba descobrindo que você mesmo não passa
de um ser humano. A cobertura dura e enganosa é aos poucos removida, quebrada,
feita em pedaços. Torna-se temporariamente inútil.
Você
vasculha o piso molhado, tenta remover a água e a terra. O registro também está
quebrado, a água não pára de jorrar. Investigando mais fundo como um detetive, você
segue os rastros do vazamento misterioso. De onde vem a água? A marreta e a pá
agora trabalham juntas. Muita coisa ainda precisa ser removida para se chegar à
raiz do problema.
Parece
que essa investigação vai te custar um bom tempo de dedicação. E Pacientemente,
removem-se os obstáculos. Todo o lixo escondido que sustenta a sua aparência
agora se encontra exposto. E o que você pode fazer? Colocar de volta? Mas o
problema persiste, o vazamento continua. O incomodo deve ser suportado.
Encontrar a raiz do problema requer coragem para enfrentar e remover os
entulhos da vida.
Então
você continua a cavar. Ninguém pode te ajudar nisso. Você está só, num buraco
cheio de entulho, terra e lama. Era só um buraquinho, um pequeno filete de
água. Mas agora é caos, confusão, dúvida. A impaciência o toma e você se senta
para descansar sem saber o que fazer.
Poucos
minutos depois quando a água pára de ser remexida, pode-se observar sua
direção. A origem desconhecida parece deixar rastros. Você persegue seu
problema. As ferramentas mudam. Você precisa se aprofundar mais. No trajeto,
cortes, surpresas, cansaço e um sentimento constante de apreensão.
Surpreendentemente
você encontra o cano quebrado e ele dispara um jato d’água no seu rosto.
Aparentemente, remover toda a cobertura só piorou as coisas. Mas
verdadeiramente, a solução requer caminho livre e vista clara daquilo que tanto
incomoda. Somente assim pode-se consertar esse vazamento.
Empolgado
você remove a terra ao redor do cano, deixa o espaço livre para trabalhar. E
arruma uma solução temporária para o problema, coloca alguma coisa pesada em
cima do cano para impedir o fluxo. Agora a decepção. Você não é um encanador.
Cavar é difícil, mas não precisa de experiência. E você não tem a mínima idéia de
como consertar um cano quebrado. E é mais ou menos o que acontece quando
deparamos com as nossas frustrações, sabemos o que leva ao erro, o que produz a
tristeza, qual a fonte da indecisão e medo. Mas não temos a mínima idéia de
como lidar com aquilo.
Ao
invés de sentir-se frustrado, milagrosamente você sossega. Se não fosse seu pai
ao lado talvez não fosse dessa forma. Mas ele, além de tudo, também é
encanador. Não um profissional encanador contratado. Mas com certeza ele sabe o
que fazer.
Em
pouco tempo o trabalho produz bons resultados. O vazamento pára. E você percebe
que pode contar com seu pai para resolver aquilo que você não pode. Só é
necessário um pouco de esforço e entrega.
junho
de 2012,
J.Caetano
Jr.