segunda-feira, 11 de junho de 2012

O Vazamento



Tudo começa com um diagnóstico simples que qualquer não profissional pode dar. De repente você se encontra coçando a cabeça, meio encurvado e com os pés numa poça d’água. “Tem alguma coisa errada”, você conclui logicamente.  A primeira coisa que se faz é procurar de onde vem a água. Olha aqui, olha ali e pronto! A água vem do chão. Um vazamento do chão requer uma quebradeira muito grande pra ser resolvido. E é até meio incomum. Mas o que teria acontecido para alguma coisa dar errado na minha vida? Isso é tão incomum. Você observa o problema e tenta descobrir uma solução. “Esse erro vem aqui desse buraquinho”. Mas a conclusão é tão superficial que você decide ir mais fundo.

A marreta quebra o piso com a mesma agressividade que os seus pensamentos vasculham seu histórico de vida. Suas ações indisciplinadas, seus erros antigos, coisas que sobrepõem outras. Você quebra a casca da aparência. O piso nada mais é que areia e entulho, e você acaba descobrindo que você mesmo não passa de um ser humano. A cobertura dura e enganosa é aos poucos removida, quebrada, feita em pedaços. Torna-se temporariamente inútil.

Você vasculha o piso molhado, tenta remover a água e a terra. O registro também está quebrado, a água não pára de jorrar. Investigando mais fundo como um detetive, você segue os rastros do vazamento misterioso. De onde vem a água? A marreta e a pá agora trabalham juntas. Muita coisa ainda precisa ser removida para se chegar à raiz do problema.

Parece que essa investigação vai te custar um bom tempo de dedicação. E Pacientemente, removem-se os obstáculos. Todo o lixo escondido que sustenta a sua aparência agora se encontra exposto. E o que você pode fazer? Colocar de volta? Mas o problema persiste, o vazamento continua. O incomodo deve ser suportado. Encontrar a raiz do problema requer coragem para enfrentar e remover os entulhos da vida.

Então você continua a cavar. Ninguém pode te ajudar nisso. Você está só, num buraco cheio de entulho, terra e lama. Era só um buraquinho, um pequeno filete de água. Mas agora é caos, confusão, dúvida. A impaciência o toma e você se senta para descansar sem saber o que fazer.
Poucos minutos depois quando a água pára de ser remexida, pode-se observar sua direção. A origem desconhecida parece deixar rastros. Você persegue seu problema. As ferramentas mudam. Você precisa se aprofundar mais. No trajeto, cortes, surpresas, cansaço e um sentimento constante de apreensão.

Surpreendentemente você encontra o cano quebrado e ele dispara um jato d’água no seu rosto. Aparentemente, remover toda a cobertura só piorou as coisas. Mas verdadeiramente, a solução requer caminho livre e vista clara daquilo que tanto incomoda. Somente assim pode-se consertar esse vazamento.

Empolgado você remove a terra ao redor do cano, deixa o espaço livre para trabalhar. E arruma uma solução temporária para o problema, coloca alguma coisa pesada em cima do cano para impedir o fluxo. Agora a decepção. Você não é um encanador. Cavar é difícil, mas não precisa de experiência. E você não tem a mínima idéia de como consertar um cano quebrado. E é mais ou menos o que acontece quando deparamos com as nossas frustrações, sabemos o que leva ao erro, o que produz a tristeza, qual a fonte da indecisão e medo. Mas não temos a mínima idéia de como lidar com aquilo.  

Ao invés de sentir-se frustrado, milagrosamente você sossega. Se não fosse seu pai ao lado talvez não fosse dessa forma. Mas ele, além de tudo, também é encanador. Não um profissional encanador contratado. Mas com certeza ele sabe o que fazer.

Em pouco tempo o trabalho produz bons resultados. O vazamento pára. E você percebe que pode contar com seu pai para resolver aquilo que você não pode. Só é necessário um pouco de esforço e entrega.


junho de 2012,
J.Caetano Jr.   
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