terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Ecos, silêncio, paciência e graça

"Ecos e silêncio, paciência e graça

Todos esses momentos eu nunca substituirei" [Foo Fighters]

Talvez seja um pouco incompreensível pra quem nunca fez isso, talvez um pouco de loucura pra quem é acostumado à tecnologia e civilização que consomem o intelecto. Mas o silêncio de uma caminhada longa solitária é muito confortante. 

Em uma das minhas andanças de bike por ai, comecei a pensar a respeito dessas experiências. E o quão necessárias elas têm se tornado pra minha maturidade. Não se trata de nada muito complexo, não precisei de nenhuma placa de vídeo de 200Gb, nem de uma memória RAM monstruosa. Só uma bicicleta relativamente boa(de guidom torto [aceito doações]) e coragem na medida certa.

Sei que faço parte de uma geração onde muitos preferem encher a cara de álcool e perder a razão pra rir um bocado (ainda que isso envolva os tão indesejados efeitos do catabólicos). Ou sei lá... 'puxar um' pra conseguir enxergar o que é belo e relaxar. Mas sinceramente... Não me adapto.

Vejo que é necessário ampliar um pouco a consciência do ser. Viver um pouco sem todas essas bugigangas superficiais e parafernálias tecnológicas que nos empurram de goela abaixo. 

A maioria das pessoas não conseguem ficar sós, nem em silêncio, porque não tem paciência. Estão sempre esperando por algum acontecimento fantástico e feliz. Algo que os tire do tédio. Como se a vida não fosse surpreendente o suficiente. Como se ser, fosse um agonia completa. Pessoas assim só esperam o fim da estrada. Nunca aproveitam a viagem. Perdem toda a diversão. E às vezes se frustram. Às vezes também ajo dessa maneira.

Vou ser honesto, jogo videogame desde muito tempo. Mas as dores do pulso de passar a tarde jogando videogame nem se comparam com os dedos tortos das pegadas no kimono. Dói um bocado, mas com certeza, um kimono suado nas costas me faz sentir bem mais vivo do que uma tela de trocentas polegadas.

Por que então passar o dia esperando e esperando? Porque não transformar o tédio em momento de reflexão? O indivíduo que você é pode conectar-se consigo mesmo! O autoconhecimento é uma bênção. Saber os próprios limites te leva a conhecer os limites dos outros. Ter uma convivência mais saudável e uma vida mais paciente.

Quer saber qual a conclusão disso tudo? Desligue-se um pouco dessa tela, conecte com o universo ao seu redor. Talvez você entenda um pouco o que é isso.

E como disse o poeta Oswaldo Montenegro: 
"Eu gosto é que Deus cante em tudo
e que não fique mudo morto em mil catedrais"

Aproveite o dia.

Paz e FELIZ ANO NOVO,
J.Caetano Jr.


Okay... Hoje tem trilha sonora!

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Você precisa disso?

Certa vez li uma frase: "Não deixe que o comportamento dos outros destrua sua paz interior."

Pensei então: "Que conversa fiada, o comportamento dos outros sempre vai exercer alguma influência sobre o nosso comportamento. Porque no fim de tudo, somos seres sociais. As relações sociais nunca vão deixar de tirar nossa paz ou nos levar a algum outro estado de sentir".

OK, filosofei. Mas desconsiderando totalmente o princípio da individualidade. (Ok ok... alguns dirão que não podemos pensar fora da sociedade e bla bla bla... ) Mas não era sobre isso que eu queria falar.

Algumas pessoas (as vezes me incluo nesse grupo), simplesmente insistem em carregar um baú de mágoas. Outros agem como se arrancassem o coração e colocassem num baú pra não serem mais feridos(tipo o Dave Jones do Piradas do Caribe). E por incrível que pareça, ou não. Essas pessoas acreditam cegamente que precisam carregar toda essa bagagem.

Tsc tsc. Sério que você precisa carregar isso com você? E daí se as pessoas com quem você se relacionou foram todas complicadas? Existe alguém normal? E se elas foram todas (ou quase todas) mal intencionadas? Você também precisa ser mal intencionado?

Muitas perguntas não? Mas é certo que não precisamos nos vingar de nada  nem ninguém. Deixe apenas que os outros sejam como são. Não temos o controle sobre as ações de ninguém. Nem sobre o nosso comportamento temos total controle. Se elas não quiserem mudar, que o mau comportamento delas as destrua(senti cheiro de vingança).

Então faça o seguinte. Conheça a si mesmo como indivíduo. Decida não se deixar levar apenas pelas emoções. Sério, jogue fora esse baú. Será que não tá na hora de começar a pensar através da própria mente, e sentir através do próprio corpo? Você precisa mesmo disso? 

Paz,
 J.Caetano Jr.




sábado, 23 de novembro de 2013

A Flor azul



A flor azul

Entre uma noite de espasmos
E uma manhã de ansiedade.
Eu vejo em meio ao concreto cimento
A flor azul de Novalis.

A própria surrealidade
Materialização do imaginário
Ela me olha de relance, mas não me vê.
Seria o sonho realidade?

Tudo que soa tão real é sublimado
Por um sentimento dialético
Como vive e morre a fênix
E o paradoxo constante do ser

Se ela de fato está ali,
Se já se foi ou nunca esteve
Como os românticos, lamento
A ilusão há de se desfazer

Então desperto incomodado
Pois não há flor
E a que sonhei não mais habita.

J. Caetano Jr.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O horizonte


Certa vez um sábio filósofo disse: "Percebi ainda outra coisa debaixo do sol: Os velozes nem sempre vencem a corrida; os fortes nem sempre triunfam na guerra; os sábios nem sempre têm comida; os prudentes nem sempre são ricos; os instruídos nem sempre têm prestígio; pois o tempo e o acaso afetam a todos."

Pensando nos inúmeros motivos que impulsionam os homens insistirem nessa vida, flertei com o horizonte. Chamei-o, mas ele permaneceu no mesmo lugar. Não tão longe. Não tão próximo. O horizonte fascina, acena, convida. É como um cartão de visitas aos peregrinos.

Nossos objetivos são como o horizonte. Não tão longe que não possamos sonhar, não tão perto que possamos tocar. E se perdêssemos as esperanças e descartássemos as idealizações, teríamos objetivos? Talvez as idealizações sejam de alguma forma, necessárias para nos impulsionar ao tangível. O sonho, o perfeito, o sublime. Coisas que quando alcançadas não são mais que: o real, o agora, o corruptível, o imperfeito. Provando sem palavras que tanto o hoje quanto o amanhã são perfeitos e imperfeitos em si.

Por isso olhamos adiante. Mantemos os olhos no horizonte. Seguimos o relógio natural e enquanto é dia, caminhamos o quanto podemos. Porque não podemos parar nos iludindo com as glórias e as preocupações excessivas da vida. A busca da perfeição nos levará ao aperfeiçoamento. E enquanto nos mantivermos nessa linha, estaremos em equilíbrio. Permanecemos na linha tênue que separa vencedores natos de sobreviventes, grandes responsabilidades de inconsequências, sabedoria de ausência de juízo. Linha que nos equilibramos sem parar, durante toda a vida.

"Somos quem podemos ser", diz o poeta. Mas estamos sempre atrás dos sonhos que podemos ter. E ele permanece lá. O horizonte. Como algo que nos faça entender, que de mãos erguidas ou não, caminharemos. Com vitórias ou derrotas insistiremos. Sob chuva ou sol, com sorrisos ou lágrimas, com marchas ou mancadas. Estaremos mirando o horizonte. Ansiando. Progredindo.


J.Caetano Jr.




quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Finalidades

E se o que eu procuro já houvesse encontrado?
De alguma forma ainda procuraria?
E se eu soubesse o que procuro?
Teria todas as respostas?

E se a felicidade que esperamos fosse o sorriso de ontem?
E se o futuro perfeito fosse agora?
A ansiedade passaria?
Como se não houvesse  mais tempo a aguardar?

E se a liberdade a ser alcançada não existisse?
Sendo a procura o próprio ato?
Se livres fossem os que sentem que precisam ser livres?
Quem afinal seriam os escravos?

Seria loucura não ter certezas?
É metódico confiar mais nas dúvidas que nas respostas?
E se não houvessem fins objetivos nos meios?
E se no fim, os meios fossem os próprios fins? 

J.Caetano Jr.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A libertação da matéria


Por não passar de um cão,
Um reflexo infantil.
Às sombras alheias...
Temo não ser nada além de uma consequência sem causa intencional.
Um acidente, randomismo.
Numa das muitas variáveis e combinações analíticas
Que compõem a informação genética.
Esse acaso, que persiste em sobrepor-se ao inferno de ser
Por meios tantos, supera-se.
No purgatório das palavras, fatigas, perfeição.
Progride lentamente. A cada polegada na escalada da abolição de si.

J.Caetano Jr.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Cogito


Como existo além do que me diz o existencialismo?
Como funciono além do ser fisiológico que sou?
Qual a composição além da material que conheço?
Ou como reage esse ser químico ao ambiente?
Do que é composto? Em quantas partes?
Qual a menor partícula? Em quantos átomos?
Duvido, e isso é tudo o que sei.
E das certezas que tenho
A mais concreta é: cogito.
Ergo as minhas dúvidas
De fato existo?
Também duvido.
Penso.

J.Caetano Jr.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Instrumentos silenciosos

A tarde cinzenta cai como um manto, à meia luz. Ele se aproxima da porta. Lentamente retira as chaves do bolso. Abre a fechadura, gira a maçaneta e entra em passos fúnebres. Suas mãos são frias, seu olhar é baixo e sua barba mal feita. É uma meia-barba. O cabelo despenteado apenas demonstra a não preocupação com a aparência dirigindo suas ações. 

A casa é grande e vazia. Esta noite ele prefere não estar com grandes e admiráveis compositores clássicos. Já fazem alguns dias que ele não convida Bach para um chá, nem janta na companhia de Beethoven e Tchaikovsky. Hoje ele está só. Encontrar-se consigo o traz uma sensação de alívio e conflito. Mas a serenidade predomina e flui devido ao alívio de saber que não incomoda ninguém naquele momento. Como se a própria paz fosse a dos outros. Como se a paz dos outros fosse sua própria. 

Ele olha para o pequeno som enquanto prepara um café, e pensa: "Não, nada de Engenheiros do Hawaii hoje, tô sem clima." Senta-se no sofá, com as luzes apagadas. No seu trono. Com apenas um gesto manual, ordena à TV que se ligue. A tecnologia obedece ao rei. O casual rei de si mesmo. Em alguns minutos, após passar por todos os canais freneticamente, o silêncio retorna. Um silêncio pesado, cheio de sons de motores, conversas e sirenes da rua. 

É fatídico mas a solidão o agrada. O canto da sala prende sua atenção. Não são os retratos de família, lembranças ou coisas espantosas que travam seu olhar. Mas o canto empoeirado, e nele um violão seminovo, modelo folk dos anos 10. Aproxima-se e vê o quão complexo e bem feito é. E quão útil seria se alguém o tocasse. O verniz do instrumento ainda reflete alguma coisa. Vê-se no violão. Sem emitir som algum. Empoeirado e sozinho.

J.Caetano Jr.  

terça-feira, 23 de julho de 2013

Mortal


"Em silêncio se vê num banquinho
Ou num canto qualquer do passado
Rodeado por boas lembranças
Insistindo em deixar velhos hábitos
Desdobrando papeis rabiscados
Solfejando canções incompletas
Abraçando melancolicamente
O sentido mortal dos poetas,
E a fugaz complexidade
Material dos organismos vivos.
A continuidade fatal da existência."

J.Caetano Jr.


quarta-feira, 10 de julho de 2013

Solitude


Estou acordado, na presença dos meus egos
Com o odor dos que sufoquei,
As piadas inteligentes dos gaiatos
E a raiva suprimida que faz tremer as mãos dos rancorosos.
Tento não ouvir o choro dos meus fracassos
Nem o lamento dos pessimistas,
Sou atraído pelo perfume do poeta
E a inocência do menino, meu jovem
Enquanto a impetuosidade do guerreiro me inspira à sobrevivência
À humildade do nada sou levado, prostrado
Choro como um desvairado, um sem teto, sem ego, sem nada
Foge-me ao rosto o sorriso, a esperança e o belo
Foge-me o Bem, e como em guerra, estou só.
Permaneço acordado, na presença dos meus egos
Todos mortos.

J.Caetano Jr.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Orações



I

Porque Deus? Só te vejo como aquele
Que não quer minha felicidade?
Porque como o torturador que planeja dores,
Ou como o caçador que me arma emboscadas te temo?

Porque a dúvida me açoita
E o temor me entorpece?
Que covardia e insegurança
Ainda batem à minha porta?

Porque Deus? Ainda te culpo?
Por minhas lágrimas e marés confusas
Que sem dúvida me afogam.
Porque me fizeste solitário e desse jeito insatisfeito?

II

Porque Senhor? Fizeste-me tão só?
Porque puseste entre os homens,
O que menos quer ser humano?
Porque Senhor, não me deixas dormir e acordar
Sem nada sentir, como todos os outros?
Porque meus pensamentos me inquietam e não encontro sossego?
Porque como o pior dos criminosos me enxergo,
E insisto, nos mesmos erros todos os dias?
Não me destes inteligência para discernir o bem?
E se tão sábia percepção possuo,
Porque ainda me sujeitam as paixões?
Porque ainda como grilhões, tornam-se as palavras vãs?
Ah, tudo que eu almejo encontrar parece não existir.
Como se não houvesse paz, como se a dor não tivesse fim.

J.Caetano Jr.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Aves


"Sonhei com aves que circulavam
Em uma elipse mal traçada
Sem liberdade, também sonhava
A agonizante revoada

Focadas em nada, procuravam
De olhos, lágrimas derramadas
E em fome algumas morriam
Batendo asas desesperadas

Voltem aqui, guardiãs da agonia
Devolvam rápido, minha pouca paz
Minha lucidez e sanidade
E o que resta da minha alegria

Pois, já não basta comerdes minhas carnes
E beberdes meus versos bêbados...
Se dos meus medos, eu mesmo bebo,
Porque insistem, em extrair-me partes?

Porque me enganam? Essas aves...
Saturando rimas egoistas,
E me inspiram a essas rimas
Fantasiosas, vulgares artes.

Dissocio-me à normalidade
Flutuando alto com os pássaros
Assentido caio, como um covarde!
De volta a terra arrasto passos.

Um grifo arrancou-me os pedaços!
E o que sofre o poeta, não o importa
Pois dizem: temos a força das
Valquírias, queremos apenas sua poesia,

Das fênix apenas a ressureição
Do ar, puramente a leveza
Da-nos do gelo, dura frieza
Do Cristo, somente a redenção

Hoje de volta a realidade
-Pois quem não voa vai pelo chão-
Feito pardal de asa quebrada...
Voei meu sonho, caí canção

Se não morrer, que eu viva então,
Gozando da vida as coisas boas...
Ou perca a mesma, diligente
Dignamente, como Sansão

Na Babilônia pós-moderna
Em meio a música e barulho
Sejam Dagom e as filistéias
Comigo então, um mesmo entulho."


J.Caetano Jr.

O Mentiroso


Ele era mais do que um tipo de gente, era um indivíduo.  Da espécie mais ofensiva que pode existir. Não por querer ser mal, ou querer ofender alguém. Mas por não saber como lidar com as situações e com as pessoas, o mentiroso viveu sua vida inteira construindo a própria forca. E que forca!

A princípio, o mentiroso sempre quis agradar. E por perder a noção do próprio querer, quis o que não queria. Sim. O mentiroso acreditava que a vontade dos outros era a vontade dele. Mentiu então para si, essa foi a primeira grande mentira. Daí pra frente oportunidades não faltaram. Desde um inocente: “Desculpa, eu estava ocupado” até um “Mas eu não fiz nada...” O mentiroso inventava desculpas para tudo. E o conformismo o tomava e ele pensava ter que ser daquela forma.

Cresceu atribulado, usando a mentira como defesa. Sempre tentou construir uma imagem perfeita de si, aceitável a todos. Agradando a todos, esquecera-se até dos princípios que lhe foram ensinados na infância. Assim, construiu uma reputação quase impecável. Exceto pelos que o conheciam mais de perto. Seu sorriso era falso, seu cabelo também. Seus recordes no videogame eram exagerados, e seu senso de humor nunca deixou transparecer uma tristeza que o fizesse fraco. Ainda na adolescência, já era quase um mentiroso profissional.

Apoiou-se então ao conhecimento e ao trabalho! Defendia-os com vigor, e acreditava que eles eram sua essência: “Sou o que faço, meu trabalho é minha vida. Isso é o melhor que posso fazer, e sou feliz”. Não percebia que nada disso provinha do que queria.

O mentiroso nunca declarou amor a ninguém. Nunca fez uma loucura ou assumiu uma postura contrária à maioria. Seria melhor passar despercebido ou ser aceito. Preferia também, ocultar o que sentia. Tudo o que o expusesse de alguma forma, era perigoso. O mentiroso viveu sem viver muito, sem riscos, sem aventuras, sem alegrias intensas, sem grandes tristezas.

O medo era seu grande aliado nessa caminhada. Ou podemos dizer, nessa indecisa caminhada. Já que não sabia o que de fato era ou queria, suas decisões eram sempre seguidas de grandes pausas e dúvidas. Agir por impulso? Jamais! A não ser para fazer o cartão da loja de departamentos que uma moça muito insistente o convencera. Ou quem sabe, fazer o que a maioria achava mais legal. Afinal, sempre andou na moda, sempre votou no partido de direita, sempre escolheu o carro da propaganda e a pasta de dentes mais cara. Aceitou a Jesus, Maomé, Buda, Allan Kardek e foi Xintoísta. Nunca se opôs a nenhum deles. Relativizou tudo. Nunca criticou. Nunca quis. Nunca sentiu. Nunca soube o que realmente sentia.

O mentiroso viveu sim. Ou posso dizer, acreditou que viveu. A grande mentira da vida dele foi a própria vida. Nunca viveu pela verdade, ainda que gerasse mágoas ou conflitos. Nunca viveu o esclarecimento de uma consciência verdadeira. E assim como muitos, morreu. Intimidado, mecanizado e sintético.

J.Caetano Jr.



quinta-feira, 13 de junho de 2013

Sobre: A dor

Quando você se machuca, ninguém pode intervir. Naquele momento, são só você e sua dor. A dor é toda a sua posse, toda a recompensa que terá enquanto a sentir. Pode ser que nem mesmo Deus sinta a sua dor (ainda que Ele a conheça como ninguém). 

Ainda que, durante o que te sobrou, sobrevenham pensamentos sobre o que será daí pra frente. Ainda que sejam construídas fortalezas de temores e muralhas com as possibilidades de seus fracassos. Os caminhos à frente são caminhos inabitados. A dor dura apenas um momento. Transcenda ao plano da eternidade e contemple a dimensão da glória. Compare-a à minuscula fração existencial que é sua vida e faça a dor valer a pena. 


O medo, a fraqueza e a impotência são barreiras, mas a dor não. A dor é um fardo de um homem só. E não se pode livrar de um fardo enquanto não se chega ao local certo. Portanto conserve vivas as esperanças, nem todos chegam ao local certo, nem todos livram-se de fardos. Aprouve a Deus permitir mais dor a alguns homens do que a outros, e fazer sofrer mais alguns do que outros.


"A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda a determinação."  (Provérbios 16 : 33) É Deus injusto por isso? Faz ele seleção de pessoas? Acaso somos suficientemente justos para julgar a Deus?




"Dizem-se que em alguns países as árvores crescem, mas não produzem fruto, pois não há inverno ali" [John Bunyan]



Paz,
J.Caetano Jr.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Desequilíbrio

"Já nem sei o que é sentir.
Dos turbilhões que me impulsionam
E me induzem a prosseguir.
Sempre intenso e tão bonito
Você é, sem mais palavras
Meu desequilíbrio favorito

Das paixões que me arrebatam
Das loucuras que me matam
Das presenças que viciam e maltratam
"Sempre imenso e exagerado", penso nisso.
Até quando assim será,
Meu desequilíbrio favorito?"

J.Caetano Jr.



quinta-feira, 23 de maio de 2013

Monologando

-Convenhamos, nós dois sabemos que és um fracasso. Aliás, quem não é? Dizes que o mundo é mal e destrói fracassados, dizes que o mundo é injusto e meritocrata. Não é apenas a misericórdia que acolhe fracassados? Não é a solidão que sobra no final? Então porque ostentar ainda orgulho, se a compaixão por desgraçados é o único presente gratuito? Bem sabes que tua presunção e apego ao teu ego será tua ruína. Tanto sabes que assim é, que desenterrastes teu orgulho morto, já decomposto e o guardaste junto a ti. Guardaste-o como à tua própria vida, mesmo sabendo que a altivez precede a tua ruína. Queres destruir-te? Somente no desapego do teu orgulho terás paz. Abraça a serenidade e descansa, pois quando passar teu ego, passará tua vaidade. E já não haverá sucesso ou fracasso, apenas a verdade.


 

J.Caetano Jr.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Nova estação




Vai embora outono
Leva contigo o que não foi
Deixa soprar o vento frio
Às folhas secas das saudades
Levando embora o que restou
Da primavera esperançosa
E bem pra longe esses delírios,
Toscos, tristonhos, metafísicos
Deixa vir as manhãs frias
Como os sorrisos de marfim
Da alegria da menina,
Com olhos negros como a noite
Iluminada de verão.


J.Caetano Jr.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Reflexão sobre a batalha#1 – A trajetória exaustiva e o prazer encontrado nela


O sol ainda brilhava, mas aos olhos dos guerreiros já se fazia noite. Os olhos só enxergavam noite. Só se via o oponente, no máximo o campo de batalha. Tantos outros fatos que chamariam a atenção dos poetas e elevariam suas mentes e corações a um mundo inteligível, não passavam, no momento, de um plano de fundo distorcido e desprezado. A algazarra inquietante que acordaria um sonolento era como o zumbido de mosquitos desprezíveis num momento de prazer. Nada tirava as concentrações. Foco. Sacavam-se as espadas e todo o resto escurecia, menos as lâminas que cintilavam o que restava da luz do sol.

Sangue. Rios de sangue jorram dos campos de batalha por motivos fúteis. As disputas por territórios, os pretextos dos reis sedentos e a própria convicção de fé, não inundariam os campos de batalha se a sede de lutar dos guerreiros não fosse maior que as outras desculpas que a guerra usa.
A espada rouba o coração dos homens e sua determinação com mais intensidade que o capricho das princesas. Reverenciam sua majestosa paixão com o mesmo fervor. Submetem-se a sofrimentos, dores, dificuldades. Enfrentam suas próprias contrariedades em virtude delas, as princesas e as batalhas possuem esse mesmo poder.

O fim da batalha não parece ser a paz, mas sim a própria batalha. Como a violência tem o fim na própria violência, embora traga conseqüências pacificadoras ou destrutivas. O objetivo da guerra não é a paz. É a guerra, a dominação. A trégua é que tem a paz por finalidade. Quem almeja a paz, propõe trégua, sofre afronta, recusa-se a ter a razão. Quem defende sua posição e propõe a disputa, almeja a disputa.
Como o corpo reage prazerosamente ao alimento a ao afago, o homem satisfaz-se em dominar, ser notado, e destacar-se. Esses três elementos parecem ser um verdadeiro alimento para o ego. E na fome do ego mora a vontade, o desejo, que se pronuncia muitas vezes, além das necessidades básicas. Daí surge o anseio pela batalha. Que carrega consigo a característica de uma peregrinação, onde se aprende e se desfruta da viagem.
Entenda-se que aqui, neste pensamento, batalha e guerra não consistem num risco corrido em defesa de uma vida ou de uma subsistência (pode ser também no sentido não violento). Mas sim, de uma maneira geral, uma disputa qualquer, seja ela por poder, território, reconhecimento diante de uma classe ou individuo, e até mesmo por vangloria.

Nas contrações musculares, gotas de suor, e energia gasta. De alguma forma que só a vontade pura explica. Encontra-se prazer no esforço físico e mental. O prazer que se encontra numa trajetória exaustiva, só se explica, quando o fim da trajetória é ela mesma. Não é a toa que quem vive pela espada, por ela morre. Quem almeja a batalha deve viver por ela. Quem almeja a ciência deve viver por ela. Da mesma forma quem almeja Deus, deve viver por ele.
O estilo de vida em guerra é uma iniciativa de quem tem prazer na guerra. Do mesmo jeito, quem tem realização na autonegação, privação ou reflexão. Pois se sabe que essas coisas, só alcançam, no fim delas, elas mesmas. Não se transformam nem se destroem, somente se intensificam à medida em que se aprofunda na prática da batalha.

Em linhas gerais, as batalhas não necessárias, são necessárias. Funcionando da mesma forma que os hobbies, que na lógica não fazem sentido, não possuem na sobrevivência, um caráter definido como necessidade. Acabam sendo necessários pelo poder de fazer mergulhar em uma atividade tão intensamente, a ponto de fazer do fim o próprio meio. A realização pura.
Assim, um jovem condicionado a conquistar várias garotas, tendo momentos de prazer com umas e outras, não se satisfaz se for de repente levado a assumir um compromisso sério com somente uma. Deve-se, portanto, entender que a prática constante de uma atividade torna-se o foco desta mesma atividade. Neste caso do exemplo, a prática da fidelidade almeja a fidelidade, e tem por conseqüência o bem da não traição e a virtude. Da mesma forma, o que pratica a arte marcial, submetendo-se a treinamentos intensos, realiza-se em tais treinamentos, e busca na disputa competitiva o próprio condicionamento para a arte, que tem por conseqüência o aperfeiçoamento e o mérito.

O guerreiro luta então, desfrutando da própria luta cada momento. Desfrutando de cada treinamento o próprio sofrimento. Pois no dia em que não houverem dúvidas, espadas que se oponham ou obstáculos que se ponham a frente de algum objetivo traçado. Já não há mais lógica na auto-superação. Resta-nos o descanso e a contemplação da verdade revelada. E tais coisas não exigem prática.


10 de maio de 2012
J. Caetano Jr.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Literal

Literal

Mais do que literário meu sentir foi literal
Aos pés das letras, sonoramente belo.
Concreto e materializado,
Como a extensão substantiva da substância
Eu te escrevi, te recitei.
Te interpretei e compreendi,
Que não és mais que amargura,
És tinta e celulose, és pensamento puro.


J.Caetano Jr.

domingo, 17 de março de 2013

Amor: um ponto de vista.

Antes de tudo, o que chamamos de amor é uma perspectiva, uma ótica aplicada a relacionamentos, sejam interpessoais ou relacionados a coisas, objetos e animais. Parece que ninguém mais ousa dizer que o amor é um sentimento, como se soasse uma solução muito simplista. Mas podemos dizer que é uma forma de direcionar sentimentos, uma visão que permite a apropriação de determinados sentimentos.

O amor caridoso pode ser considerado uma, ou a maior das virtudes morais que o ser humano pode desenvolver. Mas me parece que no fim das contas o amor é como um espelho que nos faz querer para o próximo o que gostaríamos para nós mesmos, como numa relação de auto-conservação. Mesmo assim, não deixa de ser uma virtude moral desenvolvida. Se a capacidade de desenvolvimento dessas virtudes são inatas ou não, não entraremos em questão aqui.

Por isso entende-se que quem não consegue amar-se, dificilmente conseguirá nutrir amor por outra pessoa. Essa afirmação é um tanto senso comum, mas faz sentido nessa visão. Pelas sábias palavras de Cristo: "Amarás a teu próximo como a ti mesmo". 

No pensamento de Sócrates o bem supremo assemelha-se ao amor cristão, como também em Platão, o amor tem a ver com o bem e com as formas ideais. Mas antes disso, Empedocles trata amor e ódio como forças materiais que unem e separam todas as coisas existentes. Ou seja, o conceito de amor é discutido a muito tempo e não vai ser hoje que teremos uma definição do que vem a ser. Porém um pensador me chamou atenção, Skinner chamou o amor de reforçamento positivo. O que não deixa de ter uma relação com a figura do espelho e da auto-conservação(analisando a grosso modo), como uma relação de troca ou uma via de mão dupla. Isso pode até soar um pouco sem virtude e cheio de interesse, mas é real. O apóstolo Paulo falou em Efésios 5:29 "Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja;".

Entendo em minha reflexão, portanto, que o amor é uma ótica, uma maneira de vermos as relações com pessoas objetos e coisas, como vemos a nós mesmos, direcionando sentimentos e atitudes para o objeto de afeição em questão. Amamos o que de alguma forma nos faz bem ou nos adiciona algo. Amamos aquilo que se identifica conosco, como algo que gostaríamos de conservar ou obter. Amamos aquilo que de alguma forma nos é familiar e traz uma ideia de bem.

E é exatamente na familiaridade e na singularidade que encontrei algo interessante na obra de Antoine de Saint-Exupéry:  "Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo..."

Quando cada coisa está inclusa num conjunto, numa ideia geral, aquilo não passa de mais um elemento dentre tantos. Por exemplo, uma constelação é a penas uma constelação, e tem-se a ideia geral do que seria uma estrela, nessa ótica. Uma estrela jamais poderia ser considerada especial ou de maior magnitude que outra se não houvesse um aprofundamento no conhecimento das características individuais dela. Uma constelação é um conjunto de estrelas, mas a Antares é uma gigante vermelha da constelação de escorpião que pode ser considerada a 16º mais brilhante do céu noturno. O exemplo pode parecer óbvio, mas consideremos uma ninhada de gatos. Uma pessoa em questão: A, decide criar um filhote: B. A, passa a conhecer B com seus hábitos e características individuais. B não é igual a nenhum outro gatinho de sua ninhada e o amor de A por B, diferencia-o dos outros. Penso portanto que nenhum amor é igual, e que o amor por algo ou alguém pressupõe o conhecimento do mesmo. Logo, não é possível que pessoas que não se conhecem se amem de fato. Mas é muito provável que exista o amor pela ideia que se faz do outro. Teologicamente falando, o único ser capaz de amar a todos incondicionalmente tendo o conhecimento verdadeiro da pessoa e mantendo o ponto de vista imutável pela sua onisciência, esse Ser é Deus. 

Na verdade, sobre o amor nas relações humanas sabe-se muito mais do que essas simples especulações filosóficas. Mas como diz a escritura: "Examinai tudo. Retende o bem." E este é apenas um ponto de vista sobre o amor. O amor é um ponto de vista.

Paz, 
J.Caetano Jr.

P.S.
O acima não se trata de um artigo científico, mas de especulações e divagações filosóficas de um leigo, baseadas num conhecimento superficial de alguns autores, pensadores e textos. 

domingo, 3 de março de 2013

Apenas caminhe

Talvez a sua caixa de entrada do e-mail esteja lotada. Você olha a quantidade absurda de mensagens e apaga a maioria sem peso na consciência. Dorme pouco e acorda no outro dia com pressa pra sair às responsabilidades. Tanto faz quais sejam, mas elas exigem sua atenção e velocidade. Em algumas horas um avião transporta pessoas a grandes distâncias. O ritmo do dia é frenético e a globalização exige quase uma onipresença. Seu ritmo é intenso demais. Tem de cuidar dos afazeres diários, pessoais, achar tempo para dormir e ainda checar as redes sociais. Você corre. Voa. Vive na velocidade do pensamento. Move-se em um só lugar, mas com a mente em vários.   

Já experimentou caminhar? Somente caminhar. Não. Não estou falando de caminhada matinal ou exercício cardiovascular. Já tentou não ter pressa de chegar em algum lugar? Deixar o veículo no estacionamento e ir andando até a casa lotérica, desconsiderar o horário do programa de TV e assobiar uma música qualquer enquanto se equilibra no meio fio da calçada? É assim que as crianças fazem. Não se trata de irresponsabilidade ou desconsiderar horários, se trata de tentar pairar suavemente os dias que nos restam nessa Terra. 

Mastigue suavemente a maçã madura e esteja no agora. Caminhe sob a chuva do desânimo e não esqueça de levar o protetor solar, porque quando o sol voltar a brilhar você vai precisar. Penetre o tenebroso crepúsculo das dúvidas e saia pela noite densa dos temores. Não tente correr pois tudo é como um sonho, seus medos podem te alcançar e você vai cair em desespero. Apenas caminhe. Caminhe sem parar e sem esperar da vida mais do que ela pode te dar. Espere o sol nascer e tome um banho de mar com roupa e tudo. Quem garante que amanhã existirão roupas? Ou mar? Ou você?

Converse com alguém sobre um assunto sem futuro. Esteja ao lado de quem você gosta. Caminhem juntos! Sorria para essa pessoa e veja seu sorriso. Nem tudo é lazer. Nem tudo são flores. Mas possuímos o privilégio de poder desfrutar o agora. Quem sabe o que é o tempo? Não corra contra ele! Sozinho ou acompanhado, caminhe. Apenas caminhe.

Não seja tão ansioso pelo amanhã. O amanhã cuidará de si mesmo. Nem tudo depende de você. Como diria o pregador: "TUDO tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu." Experimente caminhar! Apenas caminhar.


Paz,
J.Caetano Jr.


"Enquanto estiver vivo, sinta-se vivo. Se sentir saudades do que fazia, volte a fazê-lo. 
Não viva de fotografias amareladas... 
Continue, quando todos esperam que desistas. 
Não deixe que enferruje o ferro que existe em você. 
Faça com que em vez de pena, tenham respeito por você. 
Quando não conseguir correr através dos anos, trote. 
Quando não conseguir trotar, caminhe. 
Quando não conseguir caminhar, use uma bengala. 
Mas nunca se detenha."

[Madre Teresa de Calcutá]
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