sexta-feira, 28 de junho de 2013

Orações



I

Porque Deus? Só te vejo como aquele
Que não quer minha felicidade?
Porque como o torturador que planeja dores,
Ou como o caçador que me arma emboscadas te temo?

Porque a dúvida me açoita
E o temor me entorpece?
Que covardia e insegurança
Ainda batem à minha porta?

Porque Deus? Ainda te culpo?
Por minhas lágrimas e marés confusas
Que sem dúvida me afogam.
Porque me fizeste solitário e desse jeito insatisfeito?

II

Porque Senhor? Fizeste-me tão só?
Porque puseste entre os homens,
O que menos quer ser humano?
Porque Senhor, não me deixas dormir e acordar
Sem nada sentir, como todos os outros?
Porque meus pensamentos me inquietam e não encontro sossego?
Porque como o pior dos criminosos me enxergo,
E insisto, nos mesmos erros todos os dias?
Não me destes inteligência para discernir o bem?
E se tão sábia percepção possuo,
Porque ainda me sujeitam as paixões?
Porque ainda como grilhões, tornam-se as palavras vãs?
Ah, tudo que eu almejo encontrar parece não existir.
Como se não houvesse paz, como se a dor não tivesse fim.

J.Caetano Jr.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Aves


"Sonhei com aves que circulavam
Em uma elipse mal traçada
Sem liberdade, também sonhava
A agonizante revoada

Focadas em nada, procuravam
De olhos, lágrimas derramadas
E em fome algumas morriam
Batendo asas desesperadas

Voltem aqui, guardiãs da agonia
Devolvam rápido, minha pouca paz
Minha lucidez e sanidade
E o que resta da minha alegria

Pois, já não basta comerdes minhas carnes
E beberdes meus versos bêbados...
Se dos meus medos, eu mesmo bebo,
Porque insistem, em extrair-me partes?

Porque me enganam? Essas aves...
Saturando rimas egoistas,
E me inspiram a essas rimas
Fantasiosas, vulgares artes.

Dissocio-me à normalidade
Flutuando alto com os pássaros
Assentido caio, como um covarde!
De volta a terra arrasto passos.

Um grifo arrancou-me os pedaços!
E o que sofre o poeta, não o importa
Pois dizem: temos a força das
Valquírias, queremos apenas sua poesia,

Das fênix apenas a ressureição
Do ar, puramente a leveza
Da-nos do gelo, dura frieza
Do Cristo, somente a redenção

Hoje de volta a realidade
-Pois quem não voa vai pelo chão-
Feito pardal de asa quebrada...
Voei meu sonho, caí canção

Se não morrer, que eu viva então,
Gozando da vida as coisas boas...
Ou perca a mesma, diligente
Dignamente, como Sansão

Na Babilônia pós-moderna
Em meio a música e barulho
Sejam Dagom e as filistéias
Comigo então, um mesmo entulho."


J.Caetano Jr.

O Mentiroso


Ele era mais do que um tipo de gente, era um indivíduo.  Da espécie mais ofensiva que pode existir. Não por querer ser mal, ou querer ofender alguém. Mas por não saber como lidar com as situações e com as pessoas, o mentiroso viveu sua vida inteira construindo a própria forca. E que forca!

A princípio, o mentiroso sempre quis agradar. E por perder a noção do próprio querer, quis o que não queria. Sim. O mentiroso acreditava que a vontade dos outros era a vontade dele. Mentiu então para si, essa foi a primeira grande mentira. Daí pra frente oportunidades não faltaram. Desde um inocente: “Desculpa, eu estava ocupado” até um “Mas eu não fiz nada...” O mentiroso inventava desculpas para tudo. E o conformismo o tomava e ele pensava ter que ser daquela forma.

Cresceu atribulado, usando a mentira como defesa. Sempre tentou construir uma imagem perfeita de si, aceitável a todos. Agradando a todos, esquecera-se até dos princípios que lhe foram ensinados na infância. Assim, construiu uma reputação quase impecável. Exceto pelos que o conheciam mais de perto. Seu sorriso era falso, seu cabelo também. Seus recordes no videogame eram exagerados, e seu senso de humor nunca deixou transparecer uma tristeza que o fizesse fraco. Ainda na adolescência, já era quase um mentiroso profissional.

Apoiou-se então ao conhecimento e ao trabalho! Defendia-os com vigor, e acreditava que eles eram sua essência: “Sou o que faço, meu trabalho é minha vida. Isso é o melhor que posso fazer, e sou feliz”. Não percebia que nada disso provinha do que queria.

O mentiroso nunca declarou amor a ninguém. Nunca fez uma loucura ou assumiu uma postura contrária à maioria. Seria melhor passar despercebido ou ser aceito. Preferia também, ocultar o que sentia. Tudo o que o expusesse de alguma forma, era perigoso. O mentiroso viveu sem viver muito, sem riscos, sem aventuras, sem alegrias intensas, sem grandes tristezas.

O medo era seu grande aliado nessa caminhada. Ou podemos dizer, nessa indecisa caminhada. Já que não sabia o que de fato era ou queria, suas decisões eram sempre seguidas de grandes pausas e dúvidas. Agir por impulso? Jamais! A não ser para fazer o cartão da loja de departamentos que uma moça muito insistente o convencera. Ou quem sabe, fazer o que a maioria achava mais legal. Afinal, sempre andou na moda, sempre votou no partido de direita, sempre escolheu o carro da propaganda e a pasta de dentes mais cara. Aceitou a Jesus, Maomé, Buda, Allan Kardek e foi Xintoísta. Nunca se opôs a nenhum deles. Relativizou tudo. Nunca criticou. Nunca quis. Nunca sentiu. Nunca soube o que realmente sentia.

O mentiroso viveu sim. Ou posso dizer, acreditou que viveu. A grande mentira da vida dele foi a própria vida. Nunca viveu pela verdade, ainda que gerasse mágoas ou conflitos. Nunca viveu o esclarecimento de uma consciência verdadeira. E assim como muitos, morreu. Intimidado, mecanizado e sintético.

J.Caetano Jr.



quinta-feira, 13 de junho de 2013

Sobre: A dor

Quando você se machuca, ninguém pode intervir. Naquele momento, são só você e sua dor. A dor é toda a sua posse, toda a recompensa que terá enquanto a sentir. Pode ser que nem mesmo Deus sinta a sua dor (ainda que Ele a conheça como ninguém). 

Ainda que, durante o que te sobrou, sobrevenham pensamentos sobre o que será daí pra frente. Ainda que sejam construídas fortalezas de temores e muralhas com as possibilidades de seus fracassos. Os caminhos à frente são caminhos inabitados. A dor dura apenas um momento. Transcenda ao plano da eternidade e contemple a dimensão da glória. Compare-a à minuscula fração existencial que é sua vida e faça a dor valer a pena. 


O medo, a fraqueza e a impotência são barreiras, mas a dor não. A dor é um fardo de um homem só. E não se pode livrar de um fardo enquanto não se chega ao local certo. Portanto conserve vivas as esperanças, nem todos chegam ao local certo, nem todos livram-se de fardos. Aprouve a Deus permitir mais dor a alguns homens do que a outros, e fazer sofrer mais alguns do que outros.


"A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda a determinação."  (Provérbios 16 : 33) É Deus injusto por isso? Faz ele seleção de pessoas? Acaso somos suficientemente justos para julgar a Deus?




"Dizem-se que em alguns países as árvores crescem, mas não produzem fruto, pois não há inverno ali" [John Bunyan]



Paz,
J.Caetano Jr.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Desequilíbrio

"Já nem sei o que é sentir.
Dos turbilhões que me impulsionam
E me induzem a prosseguir.
Sempre intenso e tão bonito
Você é, sem mais palavras
Meu desequilíbrio favorito

Das paixões que me arrebatam
Das loucuras que me matam
Das presenças que viciam e maltratam
"Sempre imenso e exagerado", penso nisso.
Até quando assim será,
Meu desequilíbrio favorito?"

J.Caetano Jr.



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