J.Caetano Jr.
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Monologando
-Convenhamos, nós dois sabemos que és um fracasso. Aliás, quem não é? Dizes que o mundo é mal e destrói fracassados, dizes que o mundo é injusto e meritocrata. Não é apenas a misericórdia que acolhe fracassados? Não é a solidão que sobra no final? Então porque ostentar ainda orgulho, se a compaixão por desgraçados é o único presente gratuito? Bem sabes que tua presunção e apego ao teu ego será tua ruína. Tanto sabes que assim é, que desenterrastes teu orgulho morto, já decomposto e o guardaste junto a ti. Guardaste-o como à tua própria vida, mesmo sabendo que a altivez precede a tua ruína. Queres destruir-te? Somente no desapego do teu orgulho terás paz. Abraça a serenidade e descansa, pois quando passar teu ego, passará tua vaidade. E já não haverá sucesso ou fracasso, apenas a verdade.
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Nova estação
Vai embora outono
Leva contigo o que
não foi
Deixa soprar o vento
frio
Às folhas secas das
saudades
Levando embora o que
restou
Da primavera
esperançosa
E bem pra longe esses
delírios,
Toscos, tristonhos,
metafísicos
Deixa vir as manhãs
frias
Como os sorrisos de
marfim
Da alegria da menina,
Com olhos negros como
a noite
Iluminada de verão.
J.Caetano Jr.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Reflexão sobre a batalha#1 – A trajetória exaustiva e o prazer encontrado nela
O sol ainda brilhava, mas aos
olhos dos guerreiros já se fazia noite. Os olhos só enxergavam noite. Só se via
o oponente, no máximo o campo de batalha. Tantos outros fatos que chamariam a
atenção dos poetas e elevariam suas mentes e corações a um mundo inteligível,
não passavam, no momento, de um plano de fundo distorcido e desprezado. A
algazarra inquietante que acordaria um sonolento era como o zumbido de
mosquitos desprezíveis num momento de prazer. Nada tirava as concentrações.
Foco. Sacavam-se as espadas e todo o resto escurecia, menos as lâminas que
cintilavam o que restava da luz do sol.
Sangue. Rios de sangue jorram dos campos de batalha por motivos fúteis. As disputas por territórios, os pretextos dos reis sedentos e a própria convicção de fé, não inundariam os campos de batalha se a sede de lutar dos guerreiros não fosse maior que as outras desculpas que a guerra usa.
A espada rouba o coração dos
homens e sua determinação com mais intensidade que o capricho das princesas.
Reverenciam sua majestosa paixão com o mesmo fervor. Submetem-se a sofrimentos,
dores, dificuldades. Enfrentam suas próprias contrariedades em virtude delas,
as princesas e as batalhas possuem esse mesmo poder.
O fim da batalha não parece ser a paz, mas sim a própria batalha. Como a violência tem o fim na própria violência, embora traga conseqüências pacificadoras ou destrutivas. O objetivo da guerra não é a paz. É a guerra, a dominação. A trégua é que tem a paz por finalidade. Quem almeja a paz, propõe trégua, sofre afronta, recusa-se a ter a razão. Quem defende sua posição e propõe a disputa, almeja a disputa.
Como o corpo reage prazerosamente
ao alimento a ao afago, o homem satisfaz-se em dominar, ser notado, e
destacar-se. Esses três elementos parecem ser um verdadeiro alimento para o
ego. E na fome do ego mora a vontade, o desejo, que se pronuncia muitas vezes,
além das necessidades básicas. Daí surge o anseio pela batalha. Que carrega
consigo a característica de uma peregrinação, onde se aprende e se desfruta da
viagem.
Entenda-se que aqui, neste
pensamento, batalha e guerra não consistem num risco corrido em defesa de uma
vida ou de uma subsistência (pode ser também no sentido não violento). Mas sim,
de uma maneira geral, uma disputa qualquer, seja ela por poder, território,
reconhecimento diante de uma classe ou individuo, e até mesmo por vangloria.
Nas contrações musculares, gotas de suor, e energia gasta. De alguma forma que só a vontade pura explica. Encontra-se prazer no esforço físico e mental. O prazer que se encontra numa trajetória exaustiva, só se explica, quando o fim da trajetória é ela mesma. Não é a toa que quem vive pela espada, por ela morre. Quem almeja a batalha deve viver por ela. Quem almeja a ciência deve viver por ela. Da mesma forma quem almeja Deus, deve viver por ele.
O estilo de vida em guerra é uma
iniciativa de quem tem prazer na guerra. Do mesmo jeito, quem tem realização na
autonegação, privação ou reflexão. Pois se sabe que essas coisas, só alcançam,
no fim delas, elas mesmas. Não se transformam nem se destroem, somente se
intensificam à medida em que se aprofunda na prática da batalha.
Em linhas gerais, as batalhas não necessárias, são necessárias. Funcionando da mesma forma que os hobbies, que na lógica não fazem sentido, não possuem na sobrevivência, um caráter definido como necessidade. Acabam sendo necessários pelo poder de fazer mergulhar em uma atividade tão intensamente, a ponto de fazer do fim o próprio meio. A realização pura.
Assim, um jovem condicionado a
conquistar várias garotas, tendo momentos de prazer com umas e outras, não se
satisfaz se for de repente levado a assumir um compromisso sério com somente
uma. Deve-se, portanto, entender que a prática constante de uma atividade
torna-se o foco desta mesma atividade. Neste caso do exemplo, a prática da
fidelidade almeja a fidelidade, e tem por conseqüência o bem da não traição e a
virtude. Da mesma forma, o que pratica a arte marcial, submetendo-se a
treinamentos intensos, realiza-se em tais treinamentos, e busca na disputa
competitiva o próprio condicionamento para a arte, que tem por conseqüência o
aperfeiçoamento e o mérito.
O guerreiro luta então, desfrutando da própria luta cada momento. Desfrutando de cada treinamento o próprio sofrimento. Pois no dia em que não houverem dúvidas, espadas que se oponham ou obstáculos que se ponham a frente de algum objetivo traçado. Já não há mais lógica na auto-superação. Resta-nos o descanso e a contemplação da verdade revelada. E tais coisas não exigem prática.
10 de maio de 2012
J. Caetano Jr.
Assinar:
Postagens (Atom)