Existem duas histórias bíblicas que podem ser colocadas paralelas, e se assemelham em muitos pontos, no ponto de vista do que será observado aqui. Uma se passa no êxodo, com Moisés, e outra no evangelho de João, com Jesus, Pedro e os discípulos. Em ambas as histórias, vemos Deus entregando e propondo aliança com o povo, uma proposta de ser seu Deus, seu sustento e vida, objetivo e principal aspiração.
No primeiro caso, vemos que enquanto o Senhor fala com Moisés, entregando-lhe as leis, o povo esquece-se de seu compromisso, volta-se contra Deus, e fazendo um bezerro de ouro para adorar (Êxodo 32:1-10). Mais a frente o mesmo povo despreza o Deus que os prometeu sustento e realizou grades maravilhas, livrando-os da escravidão, e o põe a prova (Êxodo17), duvidando dEle por várias vezes, reclamando pela falta de água e de pão, desejando carne (Êxodo 16:1-12) e sentindo saudades das cebolas do Egito(Núneros 11:15). Em contraste com o egocentrismo e vaidade do povo, vemos Moisés, pedindo a Deus uma só coisa: “Agora, pois, se tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que me faças saber o teu caminho, e conhecer-te-ei, para que ache graça aos teus olhos; e considera que esta nação é o teu povo... Se tu mesmo não fores conosco, não nos faças subir daqui...” Como quem não quer nada, Moisés se achega a Deus, desejando sua presença, se importando com o caminho da vontade de Deus, até que declara abertamente: “...Rogo-te que me mostres a tua glória.” Suplicando e ansiando pela presença do Eterno, as necessidades e bênçãos passam a ser só um detalhe da caminhada. Moisés acabava de se declarar, era a Deus que ele queria e não as cebolas.
No segundo caso, vemos Jesus fazer o sinal da multiplicação dos pães (João 6), e ser aclamado como o profeta (João 6:14), o queridinho das multidões da época, e “o cara” dos milagres. Sua popularidade cresceu, e com a mesma velocidade que caiu ao fazer o discurso sobre o verdadeiro pão, sobre seu corpo e sangue: “na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes... Eu sou o pão da vida... Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele... O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida.” Enquanto o povo e alguns de seus discípulos se retiravam tristes e pesarosos pelas palavras duras de Jesus. Ele irou-se. A cena do êxodo se repetia. “Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?” Mas ouvindo isso, o mesmo sentimento de Moisés fez Pedro afirmar: “... Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.”
Moisés e Pedro estavam entre o pão e Deus, e desejaram a Deus. Mais do que as bênçãos ou as necessidades que tinham, eles sabiam que no fundo de seu ser nada disso poderia se comparar com a o simples contemplar da glória de Deus ou com as palavras e ensinamentos do mestre.
Eles, assim como tantos outros homens, entenderam o significado de sua existência. Não é apenas “como me sinto” que realmente importa, mas sim, fazer a vontade daquele que me criou. Não só por fazer, mas por entender, que a vontade dEle é boa, perfeita e agradável. Por entender que a vontade dEle é nos ter por perto e nos fazer semelhantes a Ele, ainda que algumas coisas pareçam difíceis ou contrariem nossa vontade.
Mas a grande recompensa é o conhecimento de sua glória, nossa origem, nosso alvo, o que nos move.
Mas a grande recompensa é o conhecimento de sua glória, nossa origem, nosso alvo, o que nos move.
A glória de Deus, da qual estamos ausentes, enquanto vivemos nesse tabernáculo terreno (2Cor. 5:6), foi revelada em Cristo, a imagem de Deus pai, e hoje, se revela pelo Espírito Santo, o penhor da Salvação, nos aperfeiçoando à sua imagem. E por essa glória devemos ansiar com todas as forças. Não é só uma questão de objetivos e de sentimentos, é uma questão de amar a Deus. Cumprir o primeiro grande mandamento não se realiza por meio de esforços. Os grandes heróis da fé não se esforçavam para amar a Deus, eles simplesmente amavam a Deus, e compreendiam que a coisa mais importante do momento era Ele. Apesar de tantas falhas e pecados, eles não se intimidavam, pois sua aspiração era Deus.
Como a mulher pecadora que lavou os pés de Jesus com lágrimas (Lc.7), e o salmista decepcionado do Salmo73, que afirmou categoricamente: “... a minha carne e o meu coração desfalecem; mas Deus é a fortaleza do meu coração, e a minha porção para sempre.” Ou o ex-fariseu, perseguidor da igreja, que disse: “Mas o que para mim era ganho, reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo,...(Fp.3: 5-8)”
Amar a Deus é a chave que tem por evidência a autonegação. O ato de tomar a cruz e segui-lo deixa de ser tão doloroso quando se vê mais a frente, sua glória. Tomar sobre si a sua vergonha, e ir ao calvário se fazendo maldição é o prazer daqueles que almejam a excelência do conhecimento de Cristo. Almejemos sua glória, desejemos ardentemente sua majestade, e que as evidências do amor por Cristo, se materializem em cruz, na vida todos nós.
Obs.: Leiam os versículos citados ao longo do texto, é sempre bom conferir.
Paz,
J.Caetano Jr