Sobre: Falsa Paz, Arrependimento e Sofrimento
Primeiro queria tentar esclarecer sobre o quê vamos falar; em que sentido utilizamos o termo ‘paz’. Normalmente entende-se por paz, como um estado de espírito, em que se tem tranqüilidade e ausência de preocupações. É visto como a ausência de desentendimentos e geralmente, é confundida com mera satisfação e realização.
Dai vemos pessoas que testemunham do evangelho como um meio de se alcançar paz de espírito, paz interior, nos relacionamentos, paz não sei aonde, e por ai vai.
É bem verdade que Jesus (Príncipe da Paz), falou que daria paz aos que estivessem nele: ”Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (Jo. 14: 27). Então a grande questão não é sobre ter paz, mas sim sobre ter paz verdadeira. A paz genuína que vem de Deus, por estar em sua presença.
Daí entra em cena a falsa paz, que é na verdade o conformismo, ou acomodação, disfarçado e maquiado de bonzinho. E essa é a maior característica da falsa paz; o excesso de conforto, e a passividade com o mundo e os problemas que o cercam.
“... E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz.”Jr. 23:17
O engano dos falsos profetas do tempo de Jeremias se repete ainda hoje; às vezes nem são necessários preletores para induzirem crentes ao engano; o auto-engano é suficiente para pessoas de coração duro e amantes de seus próprios deleites. Os homens que cometem pecado voluntariamente e continuamente, têm sua consciência cauterizada e enganam-se quando buscam uma justificativa ou desculpa qualquer para seus erros.
O juízo e o castigo de Deus eram anunciados pela boca de Jeremias, o povo era alertado e chamado ao arrependimento: “Pratiquem a justiça! Demonstrem frutos de justiça”. Mas o discurso dos falsos profetas era parecido com esse: “Paz, nós temos paz! Estamos ricos e abastados*, não precisamos de coisa alguma, Temos TV a cabo, ar condicionado, internet de 10Mb e bancos confortáveis. Nunca o Senhor nos abençoou tanto! O Senhor não castiga besteirinhas e pecadinhos; estamos no tempo da graça! Meus amados, sosseguem e aproveitem o que a vida vos oferece, reduzimos nossos investimentos no reino de Deus, mas Ele nos entende, não nos deixará!”
O falso profeta e a consciência cauterizada não permitem a ninguém enxergar a flecha da ira de Deus, apontada ao coração dos filhos da desobediência**. “Nós já percorremos a terra, e eis que toda a terra está tranqüila e quieta... E com grande indignação estou irado contra as nações que vivem confiantes; porque eu estava pouco indignado, mas eles agravaram o mal.” (Zc. 1: 11, 15). Mas o grito quase imperceptível dos verdadeiros profetas e a voz amável do poderoso salvador anuncia “arrependam-se, abram os olhos para a realidade, tenho grande zelo por Sião”. Portanto, o alerta incansável de Deus aos que ainda o querem ouvir, é uma repreensão e uma amostra de que todas as riquezas, posições ou conquistas realizadas fora da vontade e da graça de Deus, são como palha, pronta a ser queimada pelos babilônicos; e a paz falsa, chamada acomodação, num instante pode se tornar em dor, para que venha o arrependimento verdadeiro. Como disse C. S. Lewis, “O Sofrimento é o megafone de Deus para um mundo ensurdecido”
Não quero dizer aqui que todo sofrimento é castigo de Deus, nem que toda paz é falsa. Mas a paz de Deus é acompanhada por uma inquietação e inconformismo com o mundo e consigo mesmo; sendo confirmada por sabedoria verdadeira e frutos pacíficos de justiça. “Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz.” (Tiago 3: 17, 18). Sendo assim, o sofrimento repreensivo é conhecido intimamente pelo que recebe a correção.
Uma vez, escandalizei uma amiga, e sinto que fui um pouco radical na forma como expus minha opinião (mas não deixa de ser minha opinião). “A última coisa que quero alcançar nessa Terra é paz interior e fazer as pazes comigo mesmo.” Talvez para alguns seja diferente, mas comigo funciona assim. Eu sei que enquanto eu militar contra a minha vontade depravada, e contra o impostor que habita em mim, tenho consciência de que existe ainda o espírito de Deus me conduzindo a sua vontade. Contudo, no dia que eu sentir que tudo isso acabou, e que estou em plena paz, sem conflitos internos, praticando ações e tomando decisões deliberadamente, sem nenhum peso na consciência. Posso concluir que: Ou fui glorificado junto ao Pai e já não sou mais pecador; ou seu espírito se apartou de mim pela dureza do meu coração, deixando-me entregue as próprias vontades. Sendo assim, prefiro uma guerra interna, e uma paz eterna, do que momentos de paz internos e sofrimentos eternos.
Portanto, para evitar o sofrimento eterno e o cativeiro terreno, que não se endureçam os corações diante da repreensão do Senhor, e dêem ouvidos a voz de Deus. Pois a grande riqueza e paz que o Senhor tem a oferecer, é sua glória no meio de seu povo, e a sua presença é a maior paz, pois ele se faz como proteção ao seu povo.
“Portanto, assim diz o SENHOR: Voltei-me para Jerusalém com misericórdia; nela será edificada a minha casa, diz o SENHOR dos Exércitos, e o cordel será estendido sobre Jerusalém:
Clama outra vez, dizendo: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: As minhas cidades ainda aumentarão e prosperarão; porque o SENHOR ainda consolará a Sião e ainda escolherá a Jerusalém. Pois eu, diz o SENHOR, serei para ela um muro de fogo em redor, e eu mesmo serei no meio dela a sua glória.” (Zc. 1:16, 17 e 2: 5)
* “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te.” (Apc. 3:17-19)
** “Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, a afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria; Pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência;” (Cl. 3: 5,6)
*** O Problema do Sofrimento - C. S. Lewis
Paz,
J.Caetano Jr.
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