Não foi a primeira vez que a vi. Na verdade ela já parecia bastante familiar, Suas feições sombrias, o jeito de andar. Atraente como sempre, e com o perfil psicológico totalmente encaixado ao meu. Mais que atraente... Ideal a uma mentalidade ébria, dopada de inteligência condenatória, parecia despertar intimamente toda a argumentação que eu possuía contra mim mesmo. Linda. Fatal.
Nunca a havia visto daquela forma. Vestida de acusação e armada com condenação. A aproximação era lenta e por um instante parecia uma amiga, parecia tentar me abraçar.
Chicoteou-me então nas mãos. De maneira que larguei a espada que carregava sempre comigo, cessei minhas obras, reflexões, pensamentos. Cada parte daquele chicote rasgava o epitélio das minhas mãos; penetrava minhas carnes, desnudava minhas idéias, bloqueando reações. Sem ações. Paralisado, eu era seduzido pela Culpa como a mais bela das mulheres.
Estava me condenando novamente, só que desta vez a culpa rasgara meus pulsos. Arrependimento e Sinceridade eram necessários. A Culpa não faria bem a ninguém! Chamaria por esses dois amigos!
Lembrava-me da cruz e do que ela significava pra mim, de todas as feridas que o mestre suportou para que a maldita não me destruísse. Não poderia me deixar seduzir por um inimigo tão sagaz. Fugi cambaleando, deixando minhas vestes em suas mãos. Escondi-me à sombra do cordeiro. Como um sobrevivente, respirei. Ela se foi.
Talvez voltasse a vê-la algum dia. Mas no momento, eu era tomado por outro pensamento. Gratidão ao meu Senhor acima de tudo. Por guerrear por mim; um covarde seduzido pela culpa e amante de mim mesmo.
O que seria de mim, se não fosse o Senhor? A muito tempo meus inimigos teriam me consumido.
“SE não fora o SENHOR, que esteve ao nosso lado, ora diga Israel;
Então as águas teriam transbordado sobre nós, e a corrente teria passado sobre a nossa alma;
Bendito seja o SENHOR, que não nos deu por presa aos seus dentes.
A nossa alma escapou, como um pássaro do laço dos passarinheiros; o laço quebrou-se, e nós escapamos.
O nosso socorro está no nome do SENHOR, que fez o céu e a terra.”
(Sl.124:1, 4 - 8)
Quarta feira, 11 de janeiro de 2012
J. Caetano Jr.
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