domingo, 17 de março de 2013

Amor: um ponto de vista.

Antes de tudo, o que chamamos de amor é uma perspectiva, uma ótica aplicada a relacionamentos, sejam interpessoais ou relacionados a coisas, objetos e animais. Parece que ninguém mais ousa dizer que o amor é um sentimento, como se soasse uma solução muito simplista. Mas podemos dizer que é uma forma de direcionar sentimentos, uma visão que permite a apropriação de determinados sentimentos.

O amor caridoso pode ser considerado uma, ou a maior das virtudes morais que o ser humano pode desenvolver. Mas me parece que no fim das contas o amor é como um espelho que nos faz querer para o próximo o que gostaríamos para nós mesmos, como numa relação de auto-conservação. Mesmo assim, não deixa de ser uma virtude moral desenvolvida. Se a capacidade de desenvolvimento dessas virtudes são inatas ou não, não entraremos em questão aqui.

Por isso entende-se que quem não consegue amar-se, dificilmente conseguirá nutrir amor por outra pessoa. Essa afirmação é um tanto senso comum, mas faz sentido nessa visão. Pelas sábias palavras de Cristo: "Amarás a teu próximo como a ti mesmo". 

No pensamento de Sócrates o bem supremo assemelha-se ao amor cristão, como também em Platão, o amor tem a ver com o bem e com as formas ideais. Mas antes disso, Empedocles trata amor e ódio como forças materiais que unem e separam todas as coisas existentes. Ou seja, o conceito de amor é discutido a muito tempo e não vai ser hoje que teremos uma definição do que vem a ser. Porém um pensador me chamou atenção, Skinner chamou o amor de reforçamento positivo. O que não deixa de ter uma relação com a figura do espelho e da auto-conservação(analisando a grosso modo), como uma relação de troca ou uma via de mão dupla. Isso pode até soar um pouco sem virtude e cheio de interesse, mas é real. O apóstolo Paulo falou em Efésios 5:29 "Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja;".

Entendo em minha reflexão, portanto, que o amor é uma ótica, uma maneira de vermos as relações com pessoas objetos e coisas, como vemos a nós mesmos, direcionando sentimentos e atitudes para o objeto de afeição em questão. Amamos o que de alguma forma nos faz bem ou nos adiciona algo. Amamos aquilo que se identifica conosco, como algo que gostaríamos de conservar ou obter. Amamos aquilo que de alguma forma nos é familiar e traz uma ideia de bem.

E é exatamente na familiaridade e na singularidade que encontrei algo interessante na obra de Antoine de Saint-Exupéry:  "Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo..."

Quando cada coisa está inclusa num conjunto, numa ideia geral, aquilo não passa de mais um elemento dentre tantos. Por exemplo, uma constelação é a penas uma constelação, e tem-se a ideia geral do que seria uma estrela, nessa ótica. Uma estrela jamais poderia ser considerada especial ou de maior magnitude que outra se não houvesse um aprofundamento no conhecimento das características individuais dela. Uma constelação é um conjunto de estrelas, mas a Antares é uma gigante vermelha da constelação de escorpião que pode ser considerada a 16º mais brilhante do céu noturno. O exemplo pode parecer óbvio, mas consideremos uma ninhada de gatos. Uma pessoa em questão: A, decide criar um filhote: B. A, passa a conhecer B com seus hábitos e características individuais. B não é igual a nenhum outro gatinho de sua ninhada e o amor de A por B, diferencia-o dos outros. Penso portanto que nenhum amor é igual, e que o amor por algo ou alguém pressupõe o conhecimento do mesmo. Logo, não é possível que pessoas que não se conhecem se amem de fato. Mas é muito provável que exista o amor pela ideia que se faz do outro. Teologicamente falando, o único ser capaz de amar a todos incondicionalmente tendo o conhecimento verdadeiro da pessoa e mantendo o ponto de vista imutável pela sua onisciência, esse Ser é Deus. 

Na verdade, sobre o amor nas relações humanas sabe-se muito mais do que essas simples especulações filosóficas. Mas como diz a escritura: "Examinai tudo. Retende o bem." E este é apenas um ponto de vista sobre o amor. O amor é um ponto de vista.

Paz, 
J.Caetano Jr.

P.S.
O acima não se trata de um artigo científico, mas de especulações e divagações filosóficas de um leigo, baseadas num conhecimento superficial de alguns autores, pensadores e textos. 

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