sábado, 24 de dezembro de 2011

Algodão Doce

As nuvens da cidade não são brancas à noite.

E as estrelas que brilham são planetas. Assim como o branco da nuvem que é amarelo.

Na cidade nada é o que é. Nada espera, nada crê, nada suporta.

A noite faz o papel de deixar as nuvens a par das luzes amarelas. - gosto quando falta luz.

O Silencio, o escuro. A única luz que resta é da lua.

No meio do negrume e das velas na sala nascem pensamentos, recordações, remorsos. -Gosto do escuro.

Gosto do escuro por que me faz pensar.

No escuro invento fantasmas e fantasias. Invento monstros que sempre querem me pegar. Bem diferente do dia, onde esses monstros têm nome, RG e CPF. -mas gosto mais quando falta luz.

Gosto mais, por que quando falta luz, as pessoas são mais pessoas. As pessoas são mais elas. A criança corre para o braço da mãe aos gritos. Os velhos vão para as ruas para ver outros velhos nas ruas. Gosto, pois quando falta luz, as pessoas olham para a lua. Neste momento a tecnologia se cala e se rende a beleza natural.

E quando falta luz as nuvens são brancas, como Deus as criou.

Como todo algodão doce deve ser.

Doce.


Daniel Mateus  @damateus
11/12/2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Diário de Bordo#3: Espeleo

Numa expedição não agendada, andei curiosamente pelas obscuras cavernas da minha própria mente...


Nunca quis ser Espeleólogo, nem entendo de grutas... Mas alguma coisa me atraiu ao interior dessa gruta em especial. Não sei se alguma familiaridade ou luminosidade reveladora, mas fui levado às entranhas de uma caverna desconhecida e perigosa.


Tudo pareceu tão confuso e escuro durante um tempo. Enquanto o vento das emoções de qualquer acontecimento anormal movimentavam minha atenção, eu permaneci pendurado naquela corda, sem saber o que fazer. Sem querer conhecer de verdade minha própria identidade, e sem querer fugir dela. Decidi enfim! Com certeza encontraria sossego, afinal, quem mais estaria lá dentro, senão eu? Era isso que eu temia. Só não esperava que alguém já houvesse explorado este local desconhecido, nem tampouco que alguém se agradasse daquele abrigo aparentemente desprezível.


Confesso que tremi quando contemplei pela primeira vez como um todo.
 - Que bagunça! Pensei.
 - Realmente uma espelunca... Quantas idéias penduradas feito estalactites. Essas coisas estão quase caindo na minha cabeça!
Mais a frente percebi que muitas das ideologias haviam realmente desabado, naturalmente creio. Contudo tudo estava muito misturado, pedras, sombras, luzes, dores, amores, medos. Temi instantaneamente.
 - Alguém precisa organizar isso aqui antes que eu perca a cabeça!
Senti que na verdade esse organizador de idéias não esteve inteiramente ausente, mas agiu despreocupadamente durante um tempo.
 - Deus...
Disse numa breve oração.
 - Descuidei da minha mente, deixei de guardar meu coração*, e pela sua tendência natural ele ficou bagunçado como está. Ajuda-me a arrumar essa bagunça, quem sabe assim o Senhor se agrada do lugar...

Não obtive resposta direta, mas logo percebi que a caverna era habitada. Alguém havia colocado firmes alicerces e começara a edificar sua morada, o Senhor se agradou dali sem motivo algum, se compadeceu da falta de estrutura e da desorganização. Comprou aquele local para si e iniciou novas obras, uma construção perfeita.

Foi a motivação necessária para continuar a exploração, organizar as idéias e deixar ser edificado sobre esses fundamentos. Não me encontrei lá dentro, nem encontrei a Deus. Somente bagunça e necessidade de conserto. Mas sem a consciência da mudança ninguém tenta mudar né...  Tenho que continuar mexendo nesse lugar, não posso descuidar dele. Quero em breve conhecer aquele que deu valor ao desprezível. Que comprou por um alto preço o que não tinha nenhum valor. E amou a quem nunca mereceu.


"Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida."  (Provérbios 4 : 23)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
J. Caetano Jr.

sábado, 26 de novembro de 2011

Ser ou não ser... Eis a questão!

"Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." (II Coríntios 5: 17)

Primeiro, gostaria de tentar esclarecer a diferença principal entre ser e estar, sem desconsiderar suas semelhanças.  Entendemos o “ser”, como algo além do existencialismo seco, um conjunto de fatores que compõem a identidade de um indivíduo. Fatores de personalidade, classe social, educação, estilo de vida, filosofia etc. Enquanto a condição de “estar”, é somente um dos fatores que compõem e influenciam na identidade de um ser. Podendo ser uma condição física ou até mesmo ideológica. E também o estar, caracteriza-se por ser uma condição de existência, passageira e momentânea. 

Uma coisa completa a outra. Somos feitos, tanto daquilo que temos como indivíduos, desde o nascimento, quanto por fatores externos que passam a fazer parte da nossa identidade como um todo.

O que realmente somos?

Certa vez, li em algum lugar uma frase de C.S.Lewis que dizia: "Você não tem alma. Você é uma alma. Você tem um corpo.". Entendemos essa verdade na bíblia, quando o apóstolo diz que "PORQUE sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus."(II Coríntios 5 : 1). Fica então evidente que, nossa existência vai muito além de um corpo, com todos os traços, conquistas, tragédias, e memórias, felizes e infelizes adquiridas em vida. Tudo isso faz parte sim, compõe aquilo que somos, mas o que realmente somos, apesar de mutável, é eterno. Somos como rochas esculpidas pelo tempo, onde os fatores externos, como a erosão, podem ser escolhidos (em parte) por nós.

Podemos mudar o que somos?

Quando o livro aos Romanos, fala sobre a corrupção humana, o apostolo Paulo, argumenta quanto a corrupção dos judeus e dos gentios, colocando assim todo ser humano num mesmo plano de pecado. “Todos carecem da glória de Deus.” Tornamo-nos criaturas sem afeição natural, até mesmo nossa bondade é movida por egoísmo. Nossas ações mais louváveis são somente isso... Louváveis. Têm aparência de piedade. O homem natural é mal e busca desesperadamente, em sua independência conseguir, por meio da rebelião, um lugar no trono do próprio viver.

Não podemos mudar o que somos por nossa própria vontade. Homem algum conseguiu isso. Não por fatores naturais. Nosso ser vai ser diretamente influenciado por onde estamos. "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é...”. Se alguém está em Cristo, passa a fazer parte dele. Como galhos são apenas galhos, mas fazem parte de uma árvore, e os ramos que não podem dar frutos fora da videira. Assim se estamos em Cristo, nós deixamos de sermos nós mesmos e começamos a fazer parte do corpo de Cristo. Sendo transformados à sua imagem.

E esse tem sido o maior erro da igreja em geral. Seja no campo de testemunho diante da sociedade, ou de posicionamento na obra missionária. O Cristão quer ser um cristão sem fazer parte de Cristo, sem tomar parte nos seus sofrimentos. Queremos pregar transformação através da oba redentora, sem nunca termos sido transformados. Queremos estar “em Cristo”, sem deixarmos de sermos nós mesmos, ou sem sermos afetados diretamente por seu caráter. Não existe a possibilidade de ficar na chuva sem se molhar. Porque se estamos na chuva e não nos molhamos, estamos apenas perto da chuva isolados por algo.

É onde o clero gospel joga na lama o que chamamos de cristianismo. Quando temos uma multidão de pessoas, que alegam estar em Cristo, sem nunca terem sido afetadas por ele. E quando nós, que nos denominamos cristãos, vivemos sem praticar nada daquilo que pregamos. Tratando Deus como um sistema isolado, “aprisionado na torre de marfim da exegese.” *. Ou mesmo quando agimos descuidados, como se Jesus fosse um tipo de Papai Noel, ou Super- avô, que sempre vai passar a mão pela nossa cabeça no final das contas. Conseguimos ser tudo e nada ao mesmo tempo. Somos: teólogos, irmãos de banco, tradicionais, renovados, liberais, apologéticos, calvinistas, pentecostais, leigos, judaizantes, missionários, pop crentes... E por ai vai. Mas na maioria das vezes não somos nem cristãos. É somente um estado de espírito ou estilo de vida. Como galhos e folhas secas têm estilos diferentes de balançar quando fora da árvore.   

Enquanto estivermos sustentados em próprios conhecimentos, confiantes em nossas próprias habilidades e preocupados apenas em estar com Cristo e não em Cristo, seremos para sempre, homens caídos. Carentes da glória de Deus.


"Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;" (Fp.1:6)

*Referência à citação de Brennan Menning em “O Evangelho Maltrapilho”.

Paz,
J. Caetano Jr.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Virtudes



Quarta Feira, 26 de outubro de 2011

Virtudes

Tenho aprendido algumas coisas nesse período de tempo no jiu jitsu. O professor Telmo tem sido uma pessoa de muito boa influência na minha vida. Aqui tenho aprendido lições que transpassam os limites de um tatame, e a filosofia do caminho do guerreiro é algo de extremo valor. Observando uma passagem bíblica eu percebi que um determinado exército, foi movido à vitória por uma outra filosofia; ainda que não elaborada teoricamente, mas praticada com sucesso. Então resolvi examinar melhor algumas virtudes desse exército. Pra ser mais preciso, 7 virtudes, como no Bushido.
Juizes Cap. 7:1-25 e 8:1-4
Esse capitulo do livro de Juizes, conta a história de um povo que foi oprimido por outros exércitos maiores que o dele (Midianitas e Amalequitas). Contudo um homem dentre o povo foi levantado para libertar o povo da escravidão. (Aconselho ler os Capitulos 6 e 7 de Juizes, para melhor compreensão).
Algumas virtudes observadas na história da batalha de Gideão:

      
      1 -    Honra, Glória: Assim como no bushido, os homens que aqui lutavam, tinham em vista a glória; mas não de si mesmos. Por esse motivo Deus tomou para si um povo pequeno e de pouca força, porém determinados, para derrotar um grande exército.  “E disse o SENHOR a Gideão: Muito é o povo que está contigo, para eu dar aos midianitas em sua mão; a fim de que Israel não se glorie contra mim, dizendo: A minha mão me livrou.” (7:2)
      
    2 -  Coragem, Ousadia: Os homens selecionados para vencer na batalha foram os corajosos, por isso os tímidos e covardes foram dispensados; 22 mil, restando somente 10 mil. Agora, pois, apregoa aos ouvidos do povo, dizendo: Quem for medroso e tímido, volte, e retire-se apressadamente das montanhas de Gileade. Então voltaram do povo vinte e dois mil, e dez mil ficaram.”(7: 3)
      
     3 -  Disciplina, Educação: Dentre os 10 mil que restaram, somente 300 homens não se jogaram de joelhos desesperados por água, como mortos de sede. A atitude de beber água abaixando-se e levando a água à boca com a mão, foi considerada por Deus como um sinal de vigilância e educação.  “E fez descer o povo às águas. Então o SENHOR disse a Gideão: Qualquer que lamber as águas com a sua língua, como as lambe o cão, esse porás à parte; como também a todo aquele que se abaixar de joelhos a beber. E foi o número dos que lamberam, levando a mão à boca, trezentos homens; e todo o restante do povo se abaixou de joelhos a beber as águas.” (7: 5 e 6)
       
      4 - Confiança: Os 300 homens restantes, não temeram enfrentar os grandes exércitos, porque confiavam em seu líder e que Deus estava com eles. ”Pelo Senhor e por Gideão!” “E os midianitas, os amalequitas, e todos os filhos do oriente jaziam no vale como gafanhotos em multidão; e eram inumeráveis os seus camelos, como a areia que há na praia do mar.”(7:12)
       
       5 -  Fé: Ainda sabendo que estavam em pequeno número eles acreditaram firmemente que a estratégia de Deus (Apesar de parecer absurda), seria suficiente para a conquista. “Então dividiu os trezentos homens em três companhias; e deu-lhes a cada um, nas suas mãos, buzinas, e cântaros vazios, com tochas neles acesas.”(7:16)
       
     6 -  Unidade na Estratégia: Gideão articulou os 300 em 3 grupos para que agissem simultâneamente, em unidade, com sincronia e estratégia. “E disse-lhes: Olhai para mim, e fazei como eu fizer; e eis que, chegando eu à extremidade do arraial, será que, como eu fizer, assim fareis vós.”
    
    7 -   Perseverança: Após o sucesso da batalha, ainda assim eles perseguiram seus inimigos apesar de cansados, pois eles vivos representavam o risco da nação voltar a ser oprimida. E, como Gideão veio ao Jordão, passou com os trezentos homens que com ele estavam, já cansados, mas ainda perseguindo.”

Então, vendo isso, conscientizo-me da necessidade da disciplina, em todas as áreas da minha vida e espero que algumas coisas sirvam de lição prática na vida, no tatame, e além da vida. Que Deus seja conosco em todas as nossas batalhas; pois ainda que eu tenha tudo isso, e alcance toda a glória pra mim mesmo, perderei a maior das batalhas e guerras. Minha própria vida.



Paz,
J.Caetano Jr.

sábado, 29 de outubro de 2011

Diário de Bordo#2: Sozinho


Num cruzamento qualquer, onde o sinal fica vermelho e somos obrigados a fazer uma pausa. Um lampejo de reflexão acontece. Sou levado a pensar, continuamente, devido às muitas pausas nos sinais; e às vezes, me encontro sozinho.

A rua parece simplesmente deserta, o que eu esperava não aconteceu, minhas companhias estão em outros cruzamentos ou rodovias, e até minhas canções fogem da minha mente. Vejo que sou dependente. Sozinho. Dependente de pessoas, e estar só causa um sentimento de impotência, como se tudo o que faço fosse para os outros. Recordo das coisas que sempre digo, e penso: as lições sobre oração e intimidade com Deus... Realmente, elas agora parecem ser somente teoria vazia.

A me ver aqui parado, somente esperando o sinal mudar, vejo que progredi. E em um momento semelhante a Jacó, sei que o que eu quero não é o que somente o que meus olhos vêem, mas a eternidade, a presença do eterno. Preciso lutar com ele enquanto estamos sozinhos, preciso aprender a me retirar pra conversar com ele. Sofro de ansiedade sem cura, ansiedade pela presença dele, sede da água viva.   

O sinal abre, acelero rapidamente. Com um desejo no coração prossigo, esperar não é tão ruim assim, e estar só, parado num canto talvez seja progredir pra eternidade. Para perto do criador, quando estou sozinho, e pareço perder tempo. Na verdade estou com meu criador, caminhando rumo à eternidade.

“Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do SENHOR. Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade. Assente-se solitário e fique em silêncio; porquanto Deus o pôs sobre ele.” (Lm. 3: 26 - 28)


Sábado, 29 de outubro de 2011
J.Caetano Jr.

domingo, 23 de outubro de 2011

Diário de Bordo#1: Medo

Sabe, tenho medo. Mesmo. As vezes eu nem entendo como é que isso acontece. Mas é muito fácil pra mim perder o domínio daquilo que penso ter domínio. Mas a verdade é que não existe nada sob o meu domínio, nunca houve nada sob o meu controle. É que as vezes me sinto só. Quando grito na casa grande, na morada que não posso deixar, (pois sou eu mesmo) e só escuto o eco, subitamente sobe-me um frio na espinha; que até mesmo minha fé desfalece. 

Penso: -Onde estão aqueles que estavam comigo agora a pouco?   
Falo alto: -Ei onde estão vocês? 
Grito: - Deus! Onde está o Senhor? Porque os essa morada se torna tão sombria?! Deus?! DEUS!
Imploro: - "Olha para mim, e tem piedade de mim, porque estou solitário e aflito. As ânsias do meu coração se têm multiplicado; tira-me dos meus apertos."*

Meu pensamento racional tenta tomar a frente como se ele mesmo fosse um professor. O raciocínio lógico me afronta, como se ele mesmo fosse um boxeador. Dai contesto e ponho a prova tudo aquilo que eu sempre valorizei, aquilo que sempre busquei e apliquei meus esforços. Todos parecem se voltar contra mim, até mesmo meus íntimos. Observo que tudo aquilo que me cerca é apenas um conjunto experiencias sensoriais sem sentido algum. Tudo parece realmente bagunçado. Como se alguém realmente se importasse com alguma dor! Como se ser racional e lógico sarasse alguma dor! As minhas tentativas de esclarecer fatos, acabam obscurecendo e confundindo mais ainda meus pensamentos.

Caminho meio apressado e cambaleante pelas estradas das minhas dúvidas. Vejo um objeto meu, descuidado, meio empoeirado. No chão, largado. 
- Meu escudo?! Minha fé? O que ela faz aqui nesse lugar? Como perdi ela desse jeito? Como larguei tão relaxadamente a confiança naquele que já fez tanto por mim, me protegendo de tantos perigos?!
Minhas mãos seguram trêmulas o escudo da minha fé. Sem forças consigo ergue-lo vagarosamente, colocando-o nas costas. Já não faço mais força; é como se ele mesmo estivesse me conduzindo. Me carregando 
Ainda dói, mas sei que não estou só, Ele está comigo me progetendo. 

*Salmo 25:16,17

http://olhares.uol.com.br/escudo_medieval_foto274709.html
domingo, 23 de outubro de 2011
J.Caetano Jr.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Paz de Mentirinha

Sobre: Falsa Paz, Arrependimento e Sofrimento

Primeiro queria tentar esclarecer sobre o quê vamos falar; em que sentido utilizamos o termo ‘paz’. Normalmente entende-se por paz, como um estado de espírito, em que se tem tranqüilidade e ausência de preocupações. É visto como a ausência de desentendimentos e geralmente, é confundida com mera satisfação e realização.

Dai vemos pessoas que testemunham do evangelho como um meio de se alcançar paz de espírito, paz interior, nos relacionamentos, paz não sei aonde, e por ai vai.

É bem verdade que Jesus (Príncipe da Paz), falou que daria paz aos que estivessem nele: Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (Jo. 14: 27). Então a grande questão não é sobre ter paz, mas sim sobre ter paz verdadeira. A paz genuína que vem de Deus, por estar em sua presença.

Daí entra em cena a falsa paz, que é na verdade o conformismo, ou acomodação, disfarçado e maquiado de bonzinho. E essa é a maior característica da falsa paz; o excesso de conforto, e a passividade com o mundo e os problemas que o cercam.

“... E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz.”Jr. 23:17

O engano dos falsos profetas do tempo de Jeremias se repete ainda hoje; às vezes nem são necessários preletores para induzirem crentes ao engano; o auto-engano é suficiente para pessoas de coração duro e amantes de seus próprios deleites. Os homens que cometem pecado voluntariamente e continuamente, têm sua consciência cauterizada e enganam-se quando buscam uma justificativa ou desculpa qualquer para seus erros.

O juízo e o castigo de Deus eram anunciados pela boca de Jeremias, o povo era alertado e chamado ao arrependimento: “Pratiquem a justiça! Demonstrem frutos de justiça”. Mas o discurso dos falsos profetas era parecido com esse: “Paz, nós temos paz! Estamos ricos e abastados*, não precisamos de coisa alguma, Temos TV a cabo, ar condicionado, internet de 10Mb e bancos confortáveis. Nunca o Senhor nos abençoou tanto! O Senhor não castiga besteirinhas e pecadinhos; estamos no tempo da graça! Meus amados, sosseguem e aproveitem o que a vida vos oferece, reduzimos nossos investimentos no reino de Deus, mas Ele nos entende, não nos deixará!”

O falso profeta e a consciência cauterizada não permitem a ninguém enxergar a flecha da ira de Deus, apontada ao coração dos filhos da desobediência**.  “Nós já percorremos a terra, e eis que toda a terra está tranqüila e quieta... E com grande indignação estou irado contra as nações que vivem confiantes; porque eu estava pouco indignado, mas eles agravaram o mal.” (Zc. 1: 11, 15). Mas o grito quase imperceptível dos verdadeiros profetas e a voz amável do poderoso salvador anuncia “arrependam-se, abram os olhos para a realidade, tenho grande zelo por Sião”. Portanto, o alerta incansável de Deus aos que ainda o querem ouvir, é uma repreensão e uma amostra de que todas as riquezas, posições ou conquistas realizadas fora da vontade e da graça de Deus, são como palha, pronta a ser queimada pelos babilônicos; e a paz falsa, chamada acomodação, num instante pode se tornar em dor, para que venha o arrependimento verdadeiro. Como disse C. S. Lewis, “O Sofrimento é o megafone de Deus para um mundo ensurdecido”

Não quero dizer aqui que todo sofrimento é castigo de Deus, nem que toda paz é falsa. Mas a paz de Deus é acompanhada por uma inquietação e inconformismo com o mundo e consigo mesmo; sendo confirmada por sabedoria verdadeira e frutos pacíficos de justiça. “Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz.” (Tiago 3: 17, 18). Sendo assim, o sofrimento repreensivo é conhecido intimamente pelo que recebe a correção.

Uma vez, escandalizei uma amiga, e sinto que fui um pouco radical na forma como expus minha opinião (mas não deixa de ser minha opinião). “A última coisa que quero alcançar nessa Terra é paz interior e fazer as pazes comigo mesmo.” Talvez para alguns seja diferente, mas comigo funciona assim. Eu sei que enquanto eu militar contra a minha vontade depravada, e contra o impostor que habita em mim, tenho consciência de que existe ainda o espírito de Deus me conduzindo a sua vontade. Contudo, no dia que eu sentir que tudo isso acabou, e que estou em plena paz, sem conflitos internos, praticando ações e tomando decisões deliberadamente, sem nenhum peso na consciência. Posso concluir que: Ou fui glorificado junto ao Pai e já não sou mais pecador; ou seu espírito se apartou de mim pela dureza do meu coração, deixando-me entregue as próprias vontades. Sendo assim, prefiro uma guerra interna, e uma paz eterna, do que momentos de paz internos e sofrimentos eternos.

Portanto, para evitar o sofrimento eterno e o cativeiro terreno, que não se endureçam os corações diante da repreensão do Senhor, e dêem ouvidos a voz de Deus. Pois a grande riqueza e paz que o Senhor tem a oferecer, é sua glória no meio de seu povo, e a sua presença é a maior paz, pois ele se faz como proteção ao seu povo.

“Portanto, assim diz o SENHOR: Voltei-me para Jerusalém com misericórdia; nela será edificada a minha casa, diz o SENHOR dos Exércitos, e o cordel será estendido sobre Jerusalém:
Clama outra vez, dizendo: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: As minhas cidades ainda aumentarão e prosperarão; porque o SENHOR ainda consolará a Sião e ainda escolherá a Jerusalém. Pois eu, diz o SENHOR, serei para ela um muro de fogo em redor, e eu mesmo serei no meio dela a sua glória.” (Zc. 1:16, 17 e 2: 5)



* “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te.” (Apc. 3:17-19)

** “Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, a afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria; Pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência;” (Cl. 3: 5,6)

*** O Problema do Sofrimento - C. S. Lewis



Paz,

J.Caetano Jr.
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