domingo, 5 de agosto de 2012

Ataque Surpresa

Algumas feridas param de doer. Enquanto outras estão só no principio das dores. Estou cego. O estilhaço inesperado da indecisão raspou no meu rosto e fincou no meu olho esquerdo. O outro seria o bastante para enxergar muito bem se não fosse toda essa neblina. A situação fica a cada momento mais complicada. Algumas loucuras passam pela minha cabeça. Voltar atrás, desistir de tudo, correr desesperadamente, dar um tiro no escuro. Nada disso adiantaria nada, talvez para piorar as coisas.

E a posse? Ah, a ilusão da posse. Eu tinha tudo em minhas mãos, todos os planos, os trajetos os tempos e contratempos. Tudo parecia tão sob controle. Até que o inesperado revela que não há controle de nada. O controle é uma ilusão, a posse é uma ilusão. O inesperado sempre revela coisas. Revela palavras vazias ou carregadas de amargura. Revela o tamanho de nossa coragem em enfrentar a tragédia, ou o tamanho da nossa frouxura. Revela o nosso amor, e o nosso falso amor. A raiva, e o quanto suportamos ser tentados.

Mas a duvida? O temor? Todo o 'não saber o que fazer' que existe na terra. Essas são as piores situações que se pode estar em meio a uma guerra. De repente, quem sabe, nos sobrevem uma derrota iminente? Uma tragédia esperada? Uma bala na cabeça ou quem sabe, nada? A sensação do nada é péssima pra quem sempre espera um acontecimento.

No momento em que não se enxerga nada, é melhor não fazer nada. No momento da indecisão é melhor decidir por esperar a visão voltar.

Posso ouvir os gritos dos desesperados. Posso sentir o cheiro dos gases toxicos invadindo as entranhas e comendo o juizo dos afetados. Onde existe destruição não há como apelar. Tudo é inesperado. Tudo é repentino. Às cegas é tão dificil ter confiança. Não posso ser tomado pelo desespero. Não agora. Nunca.

Uma mão toca meu ombro e de repente alguém me diz: "Estou aqui. Confie em mim, vamos sair juntos dessa."

Ouço vozes: Organizaar!

E então uma luz de esperança se acende em meu coração. Sei que apesar de tudo o que possa acontecer, posso confiar nalguma unidade. Talvez a unica em que fosse digna de confiança durante toda a vida. Sei que apesar de todos as falhas humanas, e de sempre haver uma granada sem pino no peito de cada ser existente. Fui amado. Sou amado. Posso amar. E não preciso jogar essa granada.

Cp. Esperançoso, 21°Pelotão de Infantaria do Exercito Maltrapilho.
Em campanha rumo à Cidade Celestial. 

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