sexta-feira, 21 de junho de 2013

O Mentiroso


Ele era mais do que um tipo de gente, era um indivíduo.  Da espécie mais ofensiva que pode existir. Não por querer ser mal, ou querer ofender alguém. Mas por não saber como lidar com as situações e com as pessoas, o mentiroso viveu sua vida inteira construindo a própria forca. E que forca!

A princípio, o mentiroso sempre quis agradar. E por perder a noção do próprio querer, quis o que não queria. Sim. O mentiroso acreditava que a vontade dos outros era a vontade dele. Mentiu então para si, essa foi a primeira grande mentira. Daí pra frente oportunidades não faltaram. Desde um inocente: “Desculpa, eu estava ocupado” até um “Mas eu não fiz nada...” O mentiroso inventava desculpas para tudo. E o conformismo o tomava e ele pensava ter que ser daquela forma.

Cresceu atribulado, usando a mentira como defesa. Sempre tentou construir uma imagem perfeita de si, aceitável a todos. Agradando a todos, esquecera-se até dos princípios que lhe foram ensinados na infância. Assim, construiu uma reputação quase impecável. Exceto pelos que o conheciam mais de perto. Seu sorriso era falso, seu cabelo também. Seus recordes no videogame eram exagerados, e seu senso de humor nunca deixou transparecer uma tristeza que o fizesse fraco. Ainda na adolescência, já era quase um mentiroso profissional.

Apoiou-se então ao conhecimento e ao trabalho! Defendia-os com vigor, e acreditava que eles eram sua essência: “Sou o que faço, meu trabalho é minha vida. Isso é o melhor que posso fazer, e sou feliz”. Não percebia que nada disso provinha do que queria.

O mentiroso nunca declarou amor a ninguém. Nunca fez uma loucura ou assumiu uma postura contrária à maioria. Seria melhor passar despercebido ou ser aceito. Preferia também, ocultar o que sentia. Tudo o que o expusesse de alguma forma, era perigoso. O mentiroso viveu sem viver muito, sem riscos, sem aventuras, sem alegrias intensas, sem grandes tristezas.

O medo era seu grande aliado nessa caminhada. Ou podemos dizer, nessa indecisa caminhada. Já que não sabia o que de fato era ou queria, suas decisões eram sempre seguidas de grandes pausas e dúvidas. Agir por impulso? Jamais! A não ser para fazer o cartão da loja de departamentos que uma moça muito insistente o convencera. Ou quem sabe, fazer o que a maioria achava mais legal. Afinal, sempre andou na moda, sempre votou no partido de direita, sempre escolheu o carro da propaganda e a pasta de dentes mais cara. Aceitou a Jesus, Maomé, Buda, Allan Kardek e foi Xintoísta. Nunca se opôs a nenhum deles. Relativizou tudo. Nunca criticou. Nunca quis. Nunca sentiu. Nunca soube o que realmente sentia.

O mentiroso viveu sim. Ou posso dizer, acreditou que viveu. A grande mentira da vida dele foi a própria vida. Nunca viveu pela verdade, ainda que gerasse mágoas ou conflitos. Nunca viveu o esclarecimento de uma consciência verdadeira. E assim como muitos, morreu. Intimidado, mecanizado e sintético.

J.Caetano Jr.



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